Por: Gabriel Harchbart
A recente decisão do ex-presidente norte-americano Donald Trump de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros acendeu o alerta vermelho para empresas do Espírito Santo. Café, granito, ovos, carne, frutas, papel e celulose são algumas das exportações capixabas que podem ser diretamente afetadas.
Mais do que uma medida econômica, o tarifaço é uma sinalização política — e, como toda mudança brusca no cenário internacional, exige preparo, resiliência e inteligência de gestão.
O impacto direto no Espírito Santo
O estado é um dos maiores exportadores de café conilon do Brasil. Boa parte dessa produção tem como destino os Estados Unidos. Com a tarifa, o café capixaba perde competitividade frente a países como Vietnã ou Colômbia, pressionando os preços e a rentabilidade dos produtores locais.
No setor de rochas ornamentais, como granito e mármore, o cenário se repete. O Espírito Santo concentra mais da metade da produção nacional e tem nos EUA um de seus principais clientes. Com o aumento de custo para o importador, muitos contratos podem ser renegociados — ou perdidos.
Outros segmentos, como ovos, carne bovina, frutas (mamão, banana, laranja) e papel e celulose, também devem sentir o impacto. A tarifa de 50% pode inviabilizar acordos já assinados ou emperrar novas negociações.
O que fazer: gestão e vendas com foco em resposta estratégica
- Diversifique mercados agora, não depois
A crise é também uma oportunidade para sair da dependência dos EUA. O momento exige acelerar acordos com mercados alternativos — Europa, Oriente Médio, China e até outros países da América Latina. Buscar apoio da ApexBrasil, feiras internacionais e rodadas de negócios pode abrir portas e reduzir o impacto da perda de um único cliente relevante.
- Invista na diferenciação do produto
Com a margem mais apertada, vencer pela qualidade é uma das únicas saídas. Isso vale tanto para o café especial quanto para blocos de granito com acabamento superior. Criar um posicionamento premium pode justificar o preço em mercados exigentes e menos sensíveis às tarifas.
- Transforme o time de vendas em inteligência de mercado
Vendedores devem ir além da venda: precisam mapear tendências, identificar novos canais e trazer informação do campo para a gestão. A área comercial se torna um radar estratégico. É hora de treinar o time para falar mais inglês, dominar dados de exportação e pensar como consultores, não apenas como tiradores de pedido.
- Revise contratos e modelos logísticos com urgência
Empresas que dependem de contratos em dólar ou que operam com fretes internacionais devem revisar cláusulas de reajuste e prazos. Trabalhar com cenários de curto, médio e longo prazo permite negociar melhor — e evita sustos com a volatilidade cambial e custos de transporte.
- Use o planejamento estratégico como ferramenta viva
Quem já trabalha com metodologias como OKR, SWOT e OODA Loop está à frente. Em vez de engessar planos a cada virada de ano, o contexto pede acompanhamento semanal, revisões ágeis e times mais preparados para tomar decisões com dados em mãos. Gestão precisa virar rotina, não só discurso.
O Espírito Santo tem uma vocação exportadora admirável. Mas o tarifaço nos mostra que depender de poucos mercados é um risco estratégico.
Se a política internacional muda de uma hora para outra, nossa gestão e nosso comercial precisam mudar ainda mais rápido.
O orgulho capixaba nasce do campo, da pedra e do porto. Mas ele se sustenta com visão, estratégia e atitude.