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Conselheiros, mentores e evangelistas: os novos arquitetos da cultura

Publicado em: 04/09/2025

Por: Renzo Conalgo

 

Vivemos tempos que, para muitos, beiram o inacreditável. Tecnologias que mudam em semanas. Modelos de negócio que nascem e morrem em questão de meses. Equipes distribuídas, jornadas flexíveis, consumidores cada vez mais exigentes e engajados. Nesse cenário, onde o previsível se tornou exceção, não é exagero dizer que a lógica tradicional da gestão organizacional já não dá conta do recado. Como bem provocou Tom Peters: tempos loucos exigem organizações malucas.

Essa afirmação, à primeira vista, pode soar como rebeldia gratuita. Mas ela carrega uma verdade profunda. Se o mundo é volátil, incerto, complexo e ambíguo, como esperar que estruturas lineares, previsíveis e hierarquizadas consigam oferecer respostas eficazes? A loucura aqui não é descontrole, é reinvenção. É a capacidade de romper com padrões ultrapassados e criar novas formas de operar, liderar e decidir. O que se espera das organizações modernas é que tenham coragem para desafiar a lógica que as trouxe até aqui — porque dificilmente será essa mesma lógica que as levará adiante.

E é nesse ponto que figuras como conselheiros empresariais, mentores e evangelistas ganham protagonismo. Eles representam esse impulso de ousadia lúcida. Conselheiros deixaram de ser apenas guardiões de governança e se tornaram curadores estratégicos. Não estão ali apenas para validar decisões, mas para fomentar questionamentos. Para provocar. Para abrir horizontes. Para lembrar que a estabilidade sem propósito é uma ilusão perigosa.

Mentores, por sua vez, têm assumido um papel muito além do aconselhamento técnico. Tornaram-se espelhos humanos dentro das organizações. Estão ali para escutar, para nutrir o potencial das lideranças emergentes, para compartilhar vivências e, sobretudo, para ajudar a transformar experiência em sabedoria. São como bússolas éticas num mundo em que o ritmo muitas vezes atropela o sentido.

E há ainda os evangelistas, esses sim verdadeiros agentes do caos criativo. São os que carregam com paixão e consistência as bandeiras que movem a cultura organizacional. Não esperam que a empresa mude. Fazem a mudança acontecer. Mobilizam, inspiram, conectam. São como colas invisíveis que unem propósito, estratégia e execução. Sua força está na influência. Sua credibilidade nasce do alinhamento entre discurso e prática.

O interessante é que essas figuras, antes restritas a grandes corporações ou a contextos muito específicos, agora aparecem em empresas de todos os portes e setores. Startups, negócios familiares, organizações do terceiro setor, órgãos públicos. Todos estão percebendo que não dá mais para navegar o novo com o mapa antigo. É preciso trazer gente que enxergue o mundo com lentes múltiplas. Que questione o óbvio. Que tenha repertório, mas também sensibilidade.

Isso exige, claro, uma nova mentalidade de liderança. Líderes que acolhem a divergência como motor de avanço. Que entendem que a diversidade — de ideias, de trajetórias, de perspectivas — não é modismo, é vantagem competitiva. Porque é justamente nesse mosaico de vozes que nasce a convergência estratégica. Não uma convergência imposta, mas construída. Não por conveniência, mas por alinhamento genuíno.

E quando isso acontece, a organização se transforma. Torna-se mais viva. Mais preparada para experimentar, errar, corrigir, aprender. Ganha agilidade sem perder consistência. Ganha propósito sem perder resultado. E, acima de tudo, ganha pessoas comprometidas com algo maior que apenas suas entregas individuais. Porque no fim do dia, o que sustenta uma empresa num mundo maluco não é o processo, é a cultura. Não é a hierarquia, é a confiança. Não é o controle, é a clareza de rumo.

Organizações “malucas”, portanto, são aquelas que têm coragem de ser autênticas. Que desafiam o óbvio. Que se permitem dançar com a incerteza, sem perder o compasso. E que entendem que, para fazer sentido no mundo de hoje, é preciso deixar de lado o medo de parecer estranho. Afinal, como já dizia Peters, o maior risco agora é parecer normal demais.

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