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Do FIFA ao EA Sports FC: a estratégia que preparou a EA para um exit de US$ 55 bi

Publicado em: 30/09/2025

Por: Gabriel Harchbart

 

A Electronic Arts, criadora do EA Sports FC (ex-FIFA), foi vendida por US$ 55 bilhões. Mais do que um grande negócio, é um manual de gestão escrito ao longo de quatro décadas. O que explica tanto valor? Decisões consistentes sobre produto, marca, aquisições e modelo de receita.

 

Como tudo começou

Em 1982, a EA nasce tratando desenvolvedores como “artistas de software”. Essa escolha cultural — dar status ao talento criativo e colocá-lo no centro — virou vantagem competitiva. Em 1989, a abertura de capital financia a expansão. Em 1991, nasce a EA Sports e, com ela, o conceito de franquias anuais que combinam comunidade, calendário e previsibilidade.

 

Aquisições com tese

A EA não comprou por moda. Comprou para fechar lacunas estratégicas. Maxis trouxe profundidade em simulação (SimCity/The Sims). PopCap abriu a porta do casual/mobile. Respawn consolidou AAA e live services (Apex). Codemasters garantiu liderança em corrida e licenças globais. Cada aquisição ampliou portfólio, público e tempo de vida útil dos títulos.

 

Marca acima do rótulo

Quando a FIFA saiu do nome e a franquia virou EA Sports FC, a base permaneceu. A lição é clara: quem controla a comunidade, os dados e a distribuição controla o negócio. Parcerias são importantes, mas o ativo crítico é a relação direta com o usuário. Como observa Glaucio Marques, Diretor Latam de Games Services da Razer: “No fim do dia, o poder não está na licença ou no rótulo, mas na capacidade de manter a comunidade engajada e fiel à sua plataforma.”

 

Monitização recorrente

A EA transformou jogos em serviços. Temporadas, passes e conteúdos vivos criam caixa previsível, elevam LTV e amortecem ciclos de hardware. Isso muda a dinâmica de gestão: menos dependência de “lançamento perfeito”, mais foco em retenção, ritmo e operação contínua.

 

Governança para velocidade

Ao sair do mercado público, a empresa ganha liberdade para investir de forma anticíclica e testar apostas de longo prazo. O trade-off é simples: menos pressão trimestral, mais cobrança privada por execução. Para gestores, é um lembrete de que estrutura de capital também é estratégia.

 

O que levar para o seu negócio

  1. Inventário de intangíveis: quais dados, comunidades e parcerias você realmente possui?
  2. Tese de M&A/parcerias: que lacuna estratégica (produto, canal, geografia) você precisa fechar?
  3. Receita previsível: quais features ou serviços podem virar assinatura, manutenção ou “temporadas”?
  4. Arquitetura de marca: sua proposta resiste se o “selo” mudar? Quem de fato detém o relacionamento com o cliente?
  5. Ritmo operacional: qual o seu calendário de melhorias para manter a comunidade engajada o ano inteiro?
  6. Métricas que importam: LTV/CAC, churn, retenção de cohort, ARPU e margem por linha de receita.
  7. Rituais de gestão: cadência clara de planejamento, review e decisão, para executar sem improviso.

A trajetória da EA não é sorte de um grande cheque. É o acúmulo disciplinado de vantagens: cultura centrada no talento, aquisições com propósito, marca proprietária e monetização recorrente. 

“O caso da EA ensina que escalar com previsibilidade depende de construir ativos proprietários, comunidade, dados e relacionamento direto, que resistem a mudanças de nome, de modelo ou de ciclo tecnológico.” afirma Glaucio Marques.

Toda empresa que quer escalar com previsibilidade deveria responder a uma pergunta simples: qual é o seu “EA Sports” — o ativo que, mesmo trocando o rótulo, preserva base, engajamento e receita?

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