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Goste-se ou não de Donald Trump, a libertação dos últimos reféns vivos em Gaza recolocou a negociação no centro do tabuleiro. No dia 13 de outubro de 2025, um acordo de cessar-fogo mediado por EUA, Egito e Catar levou à soltura de 20 reféns e à libertação, por Israel, de quase 2.000 prisioneiros e detidos palestinos — a fase mais sensível de um pacote que vinha sendo burilado desde 2024.
O governo americano atuou como “maestro” desse arranjo. Dias antes, o gabinete israelense aprovara formalmente o plano apresentado por Trump para trégua e liberação total dos reféns remanescentes; na sequência, a operação foi executada em etapas com janelas humanitárias e procedimentos logísticos para reduzir o risco de ruptura.
Do ponto de vista de gestão e estratégia, o episódio ecoa pilares que o próprio Trump popularizou no livro A Arte da Negociação: pensar grande, proteger o downside, ampliar opções e ancorar a narrativa. Traduzindo o “playbook” em movimentos observáveis:
1) Ancoragem e narrativa
Definir desde o início o que é não negociável e comunicar com clareza molda expectativas e reduz ambiguidades. Ao discursar em Jerusalém e enfatizar os objetivos finais (trégua executável + libertação faseada), o governo americano deu lastro político à execução.
2) Pacotes multifator
O acordo deixou de ser binário (“reféns vs. prisioneiros”) e virou um pacote: cessar-fogo monitorado, trocas em ondas, ajuda humanitária e garantias de implementação. Quando você negocia combos e não itens isolados, aumenta a zona de possível acordo.
3) Coalizões com papéis definidos
Egito e Catar foram mediadores operacionais; EUA atuaram na pressão e nas garantias; Israel e Autoridade Palestina se alinharam em aspectos técnicos de pós-acordo, inclusive com interlocutores externos discutindo reconstrução e governança. Em negociações complexas, a coalizão certa reduz atrito e “empresta” credibilidade ao cumprimento.
4) Relógio na mesa
Marcos, prazos e checkpoints mantiveram tração e restringiram a entropia típica de processos multilaterais. Quando o tempo vira variável de gestão — e não mero calendário — a chance de conclusão sobe.
Também há realismo: mesmo após o clímax do acordo, a logística pós-conflito é árdua (da ajuda à recuperação de corpos), o que exige gestão de riscos contínua — outro lembrete de que negociar não é um evento, é um processo.
A Arte da Negociação não é “ganhar no grito”. É orquestrar variáveis, reduzir riscos e ampliar alternativas até que o acordo seja mais racional que o impasse. Para empresas capixabas — de serviços a indústria — o caso mostra que estratégia vence improviso: quando prioridades, coalizões e relógio estão na mesma partitura, o acordo aparece.
E o nobel da paz? A pergunta é legítima, mas exige separar mérito diplomático de critério do prêmio. Há argumentos a favor: a condução do pacote (trégua, trocas, garantias) funcionou como catalisador para a libertação dos reféns e reduziu, ainda que temporariamente, a violência — um feito raro em conflitos de alta complexidade. Há argumentos contra: a paz permanece frágil, com riscos de retrocesso e pontos sensíveis por implementar; tradicionalmente, o comitê valoriza processos com efeitos duradouros e verificáveis.
Em termos de gestão, o reconhecimento é incontestável; em termos de Nobel, a régua costuma ser a sustentação do acordo ao longo do tempo. Em bom “capixabês” de negócios: resultado extraordinário, sim — mas prêmio depende de governança, execução contínua e irreversibilidade nos próximos capítulos.