Foto: Reprodução / UCondo
O Espírito Santo vive um momento de modernização acelerada da mobilidade. Cada vez mais capixabas estão adquirindo veículos elétricos, e condomínios, garagens e empreendimentos comerciais começam a instalar pontos de recarga para atender essa demanda.
É um avanço importante. Representa inovação, sustentabilidade e futuro.
Mas junto com esse movimento, cresce também um risco silencioso: a instalação improvisada e insegura de carregadores veiculares dentro das edificações.
No dia a dia, acompanhamos obras novas e prédios antigos tentando se adaptar. O problema é que, em muitos casos, essa adaptação está sendo feita “por conta própria”, sem projeto, sem análise de carga, sem avaliação da edificação e sem atenção às normas técnicas. O resultado? Sobrecarga, aquecimento, cabos inadequados, improviso e risco real de incêndio.
E aqui é preciso deixar claro algo que pouca gente sabe:
quando pesquisamos as ocorrências de incêndios no Brasil associadas a veículos elétricos, a grande maioria não tem origem nas baterias dos carros. O fogo começa nas instalações elétricas mal executadas dos prédios.
Ou seja, o problema não é o veículo. É a infraestrutura que não foi preparada para recebê-lo.
A falsa sensação de que “é só colocar uma tomada no estacionamento” tem levado condomínios inteiros a situações perigosas. Carregador veicular não é eletrodoméstico. Ele exige circuitos dedicados, cabos dimensionados para alta corrente contínua, proteções adequadas, compatibilidade com o quadro elétrico existente e avaliação técnica da capacidade do sistema. Fazer isso sem projeto e sem profissional habilitado é assumir um risco enorme — para o morador, para o prédio e para todos ao redor.
As instituições já entenderam esse cenário e avançaram na regulamentação. O Corpo de Bombeiros possui diretrizes específicas de segurança contra incêndio para estações de recarga. Existe norma técnica da ABNT diretamente aplicável às instalações elétricas e à infraestrutura de recarga. O próprio CONFEA já publicou orientações reforçando a necessidade de responsabilidade técnica, projeto e execução adequada.
Ou seja, não faltam regras. Falta segui-las. Quando instalações são feitas de qualquer maneira, todo o sistema predial sofre. Quadro superaquecido, cabos queimados, sobrecarga na rede, riscos estruturais. E quem paga a conta, no final, é o usuário, o condomínio e a cidade. Um acidente desse tipo não destrói apenas patrimônio. Coloca vidas em risco.
O caminho é simples e seguro: consultar um engenheiro eletricista habilitado antes de instalar qualquer carregador. É esse profissional que vai avaliar a capacidade da edificação, dimensionar adequadamente os circuitos, orientar o condomínio, emitir ART, orientar a execução e garantir que a modernização chegue com segurança — e não com improviso.
Vivemos um tempo de transformação. Os veículos elétricos são uma realidade, e vieram para ficar. Mas não podemos permitir que a pressa supere o cuidado. A engenharia existe para proteger, organizar e garantir que o avanço tecnológico seja acompanhado de segurança técnica.
O Espírito Santo pode ser referência em infraestrutura segura para veículos elétricos. Mas isso só será possível com planejamento, responsabilidade técnica e valorização do papel da engenharia. Não é só uma tomadinha. É segurança, é proteção e é respeito a quem vive e trabalha dentro das nossas edificações.