Foto: Divulgação
Com foco na música brasileira, especialmente em obras de compositoras, apresentando um repertório pouco conhecido do público, sobretudo dos séculos XX e XXI, o Festival de Música Erudita do Espírito Santo chega à sua 11ª edição, com participação de músicos capixabas e um programa extenso que contempla a diversidade de gêneros, culturas e orientações estéticas, marcando inclusive a estreia de quatro obras inéditas compostas especialmente para o festival.
Os concertos e espetáculos acontecem entre os dias 3 e 25 de novembro, no Sesc Glória e na Casa da Música Sônia Cabral, ambos no Centro de Vitória. Neste ano, o eixo temático proposto pelo curador convidado, João Luiz Sampaio, traz uma questão: “Como é por dentro uma pessoa?”. A partir disso, a programação foi concebida a fim de refletir sobre o ato de ouvir – a si mesmo e o outro, compreendendo e respeitando as diferenças.
A série Concertos Itinerantes, parte de um conjunto de iniciativas voltadas à integração de comunidades e setores da sociedade que, geralmente, não têm acesso às salas de espetáculos e demais espaços culturais, também compõe a programação do festival, que tem direção de Tarcísio Santório e Natércia Lopes, direção artísticas de Livia Sabag, assessoria musical de Gabriel Rhein-Schirato e correalização da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses).
A abertura da programação traz uma das obras criadas para o festival: a ópera “Contos de Júlia”, do compositor Marcus Siqueira e da libretista Veronica Stigger. O espetáculo leva ao palco personagens inspirados na obra literária da escritora brasileira Júlia Lopes de Almeida. Vivendo na passagem do século XIX para o XX, a autora foi pioneira ao dar voz a personagens femininas às voltas com a violência e o preconceito da sociedade. Com direção musical e regência do maestro Gabriel Rhein-Schirato, à frente da Oses, o espetáculo será apresentado dias 3 e 5 de novembro, no Sesc Glória.
No dia 10 de novembro, a Orquestra Jovem Vale Música se apresenta na Casa da Música Sônia Cabral um programa dedicado às crianças, com um repertório formado por obras que evocam a infância e o diálogo entre a música clássica e as manifestações regionais. Estão no repertório: “Simple Symphony op. 4”, de Benjamin Britten; “Suíte Infância Brasileira”, de ElodieBouny; “Esboços – Cenas Pitorescas op. 38”, de Leopoldo Miguez; e “Invenções Brasileiras nº 2”, composta por Juliana Ripke a convite do festival.
Também na Casa da Música Sônia Cabral, dia 11 de novembro, o consagrado pianista Cristian Budu apresenta-se em um concerto que mergulha em obras do período romântico, interpretando composições de Beethoven, Robert Schumann, Clara Schumann, Fanny Mendelssohn e Franz Liszt.
Reflexões
Uma reflexão sobre a guerra e a intolerância, com um olhar na sobrevivência por meio da arte e da poesia, está no cerne do programa a ser apresentado dia 17 de novembro, na Casa da Música Sônia Cabral, que traz obras do português Fernando Lopes-Graça, da coreana Younghi Pagh-Paan e das americanas Margareth Bonds e Margareth Brouwer, interpretadas pelo barítono Homero Velho, pela pianista Priscila Bomfim e pela trompetista Uriel Borges. A noite conta ainda com a estreia de outra obra criada sob encomenda para o festival: “Manadas abrem com fogos os caminhos”, de Leonardo Martinelli, composta a partir de texto da poeta brasileira Júlia Hansen.
No dia 18, também na Casa da Música Sônia Cabral, será apresentada a obra “Passionis de Flamma”, canções em que Eli-Eri Moura narra histórias de três mulheres brutalmente assassinadas. Em contrapartida, a noite traz ainda a obra “Femmes de Légende”, de Mel Bonis, na qual cada passagem evoca uma grande personagem feminina da história da arte. A pianista Erika Ribeiro e a soprano Débora Faustino unem-se para esse recital de pura resistência feminina e contra o silenciamento da mulher compositora.
Thais Montanari, compositora da inédita “Poço de Dentro”, que estreia no festival (Foto: Hippolyte Vendra)
Com obras da iraniana Niloufar Nourbakhsh, da chinesa Joyce Tang e da francesa Lili Boulanger, além da estreia de “Poço de Dentro”, escrita pela brasileira Thais Montanari e interpretadas pelo Quarteto Bratya junto com a harpista Maíni Moreno, a Casa da Música Sônia Cabral recebe, no dia 24 de novembro, um recital que propõe um olhar para histórias e vidas que marcam o cotidiano. O espetáculo também vai circular por diversos espaços da Grande Vitória.
O concerto de encerramento do festival será realizado no Sesc Glória, dia 25 de novembro, com a Oses, sob regência do maestro Helder Trefzger, além da participação dos vencedores do 2º Concurso de Canto Natércia Lopes.
Outras ações
Por meio da série Concertos Itinerantes, o festival levará também diferentes repertórios da música erudita para asilos e escolas, entre outros espaços públicos da Grande Vitória, com o Quarteto de Cordas Bratya e a harpista Maíni Moreno.
Além disso, sob orientação da diretora de palco Herla Ferla, acontece o projeto Ópera-cional, voltado à capacitação profissional para pessoas interessadas em atuar nas funções técnicas da produção de espetáculos operísticos, que teve início na última quarta-feira (18) e termina no próximo dia 31.
A programação do festival, neste ano, contou ainda com a quarta edição do programa Vitória Ópera Estúdio (VOE), destinado à formação e ao aperfeiçoamento profissional de estudantes e profissionais da área de ópera. A iniciativa foi criada em 2014 por Livia Sabag e Tarcísio Santório.
Também foi realizado o 2º Concurso de Canto Natércia Lopes, criado com o objetivo de fomentar o canto lírico no Brasil, estimulando cantoras e cantores acima de 18 anos, em diferentes categorias, com premiações em dinheiro que somaram R$ 24 mil. Selecionados por uma comissão julgadora formada por renomados profissionais do meio operístico, os vencedores vão se apresentar junto com a Oses no concerto de encerramento do festival.
A 11ª edição do festival é realizada pela Cia de Ópera do Espírito Santo (Coes), com patrocínio da Shell e do Instituto Cultural Vale, viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura (MinC). O evento conta ainda com correalização da Secretaria da Cultura (Secult), por meio da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses), além de apoio do Sistema Fecomércio, por meio do Sesc Glória.
Realizado desde novembro de 2013, o Festival de Música Erudita do Espírito Santo já trouxe para o estado grandes nomes nacionais e internacionais, como Eliane Coelho, Cristian Budu, Emmanuele Baldini, Denise de Freitas, Fernando Portari, Eduardo Monteiro, Nahim Marun, Célia Ottoni, Aleyson Scopel, Gabriela Queiroz, Fábio Bezuti, os maestros Gabriel Rhein-Shirato e Helder Trefzger, o uruguaio Alfonso Mujica, a argentina Rosana Schiavi, os norte-americanos Maria Russo e Marc Verzatt, entre tantos outros.
A sua oitava edição, em 2020, realizada inteiramente em ambiente digital para se adaptar às medidas de proteção contra a pandemia de Covid-19, promoveu diversas transmissões simultâneas ao vivo, recebendo críticas positivas nacionais e internacionais, o que rendeu ao festival uma indicação ao Prêmio Concerto, maior premiação destinada à música clássica no Brasil.
Sua 8ª edição, 100% digital, para se adaptar às exigências da pandemia, em 2020, com transmissão simultânea no método “ao vivo”, recebeu inúmeras críticas positivas nacionais e internacionais e por isso, também, foi indicado ao maior prêmio nacional de música clássica, o Prêmio Concerto, da renomada publicação brasileira.
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