Vivemos tempos em que a maior riqueza não é o petróleo, nem o ouro, tampouco os dados — é a atenção. Em uma sociedade hiperconectada, onde milhões de estímulos competem pelo nosso foco a cada segundo, capturar e manter a atenção de alguém se tornou um desafio digno de mestres estrategistas. O economista Herbert Simon, lá nos anos 70, já antecipava o que seria esse dilema moderno ao cunhar o termo “economia da atenção”. Ele dizia que, quando a informação se torna abundante, a atenção se transforma no recurso escasso. E nunca isso fez tanto sentido quanto agora.
O conceito de economia da atenção parte da ideia de que vivemos em um mercado onde as empresas competem não apenas pelos bolsos dos clientes, mas principalmente pelo seu tempo e pelo seu foco. E quem consegue essa conquista, conquista quase tudo. Não à toa, gigantes da tecnologia investem bilhões para entender nossos comportamentos, nossos padrões de consumo de conteúdo, os momentos em que estamos mais propensos a interagir — tudo para entregar a mensagem certa, no canal certo, na hora exata. A atenção é a nova moeda. Simples assim.
Só que capturar essa atenção é só o primeiro passo. O maior desafio é retê-la, mantê-la engajada em um cenário de múltiplas telas, notificações incessantes e uma avalanche de opções. Vivemos a era da multicanalidade, em que o cliente interage com as marcas em diferentes plataformas: redes sociais, e-mail, chatbots, aplicativos, marketplaces, WhatsApp… a lista não para de crescer. A jornada do consumidor nunca foi tão fragmentada, o que cria uma disputa feroz por cada segundo de envolvimento.
O paradoxo é claro: temos à disposição mais canais de comunicação do que nunca, mas o tempo do usuário continua sendo o mesmo. E a cada nova alternativa de interação, cresce o risco de dispersão. Em outras palavras, o excesso de possibilidades pode gerar o efeito contrário ao esperado: a paralisia pela abundância. O cliente, soterrado por informações e estímulos, se torna mais seletivo, menos paciente e extremamente criterioso.
Diante desse cenário, surgem algumas respostas estratégicas que as empresas precisam considerar. A primeira delas é o design da experiência, ou UX (User Experience). Criar jornadas simples, intuitivas e sem atritos virou uma obrigação. O usuário não tolera mais processos longos, menus complexos ou interfaces poluídas. Se não encontra valor nos primeiros segundos de interação, ele simplesmente parte para outra opção — e dificilmente volta.
Mas não é só de tecnologia e design que se constrói atenção. A humanização das marcas tem sido cada vez mais um fator decisivo. Estamos vivendo uma tendência clara: executivos C-Level assumindo o protagonismo da comunicação, colocando suas vozes nas redes sociais e se tornando porta-vozes das suas empresas de maneira autêntica. CEOs, fundadores, CFOs e até CTOs passaram a dialogar diretamente com o mercado, colaboradores e clientes, criando uma relação de proximidade que vai além do institucional. Essas lideranças não falam apenas de negócios; falam de propósito, valores e visão de futuro. Isso gera identificação, credibilidade e, claro, capta atenção em um ambiente onde a confiança é cada vez mais rara e disputada.
É nesse ponto que o conteúdo gerado pelo usuário, o famoso User Generated Content (UGC), assume um papel de ativo estratégico. Quando o cliente se torna parte da construção da narrativa da marca, criando conteúdos espontâneos, avaliações, unboxings, tutoriais e recomendações, ele valida a autenticidade do que a empresa entrega. Na economia da atenção, nada é mais poderoso do que alguém real dizendo: “eu confio nisso”. O UGC funciona como um megafone orgânico, ampliando o alcance e reforçando a credibilidade sem parecer publicidade tradicional. Ele cria um senso de comunidade e pertencimento, fatores que mantêm o cliente conectado e engajado.
E aqui há uma mudança de mentalidade: não basta empilhar conteúdo e esperar que a audiência venha. É preciso criar conexões de valor. As marcas que entendem isso param de gritar e começam a dialogar. Passam de interrupção para interação. Saem da lógica da propaganda invasiva e entram na lógica da construção de comunidades, onde o relacionamento é contínuo, genuíno e baseado em confiança.
Se a atenção é a moeda do presente, a confiança é o investimento de longo prazo. As marcas que souberem respeitar esse equilíbrio — entre conquistar atenção e construir confiança — vão navegar melhor neste oceano de distrações que virou o mercado digital. O futuro pertence a quem entende que, antes de vender produtos, é preciso merecer a atenção de alguém. E que cada segundo de foco conquistado deve ser tratado como um ativo precioso.
Em tempos de excesso, menos é mais. Menos ruído, mais relevância. Menos interrupção, mais conexão. Na economia da atenção, só sobrevive quem entrega valor real — e quem se permite ser humano, antes de ser marca.