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Antes de taxar os super-ricos, o Estado precisa aprender sobre Gestão

Publicado em: 08/07/2025

Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Por: Gabriel Harchbart

 

Em um país onde a cultura do improviso muitas vezes suplanta a disciplina da gestão, parece tentador culpar a concentração de riqueza pelos problemas do Estado. De tempos em tempos, ressurge o coro: “vamos taxar os super-ricos”. A proposta soa justa, popular e conveniente — mas está longe de ser eficiente.

A discussão sobre taxação de grandes fortunas já foi tentada em diversos países. Na prática, a maioria das economias que implementaram impostos sobre grandes patrimônios abandonaram a ideia, como França, Alemanha, Suécia e Holanda. Segundo um levantamento da OCDE, em 1990, 12 países utilizavam esse tipo de tributação. Em 2023, restavam apenas quatro, arrecadando menos de 1% do PIB — e com alto custo administrativo.

Um dos principais motivos? A dificuldade de mensurar e tributar corretamente ativos ilíquidos e complexos, como participações em empresas, imóveis, obras de arte e investimentos no exterior. Segundo o Financial Times, “taxar a riqueza é difícil porque ela se move rápido, se protege melhor, e muitas vezes não é visível”.

Mais ainda: o próprio Gordon Gray, diretor do American Action Forum, demonstrou que, mesmo confiscando todas as fortunas acima de US$ 50 milhões nos EUA, o impacto seria de curto prazo e não cobriria sequer 20% do déficit fiscal anual — revelando que o problema não está na arrecadação, mas no gasto. É como se uma empresa tentasse equilibrar o caixa vendendo ativos de longo prazo sem revisar a estrutura de custos.

 

Por que tudo isso importa para a gestão?

Porque a lógica por trás da taxação dos super-ricos ignora os princípios mais básicos da boa administração: foco em produtividade, alocação eficiente de recursos e estímulo ao crescimento. Não se conserta uma estrutura ineficiente penalizando quem gera valor — da mesma forma que um CEO não equilibra um P&L cortando os top performers.

Em gestão estratégica, não existe milagre. Existe alocação inteligente, controle de risco e construção de valor no longo prazo. Quando um governo propõe tributar cada vez mais quem gera, indivíduos ou empresas, ele distorce os incentivos de todo o sistema. E não há sistema que funcione quando se pune quem performa.

O próprio conceito de “riqueza” tributável é um risco gerencial. A França, por exemplo, viu a saída de mais de 60 mil milionários após instituir o Impôt de Solidarité sur la Fortune. O resultado? Queda na arrecadação, retração nos investimentos e, anos depois, o fim do imposto.

Além disso, há o custo operacional dessa estratégia: avaliação anual de patrimônio, judicialização, fiscalização sobre ativos ilíquidos. Na Suíça, o custo da cobrança consome boa parte do que se arrecada — um cenário impensável para qualquer empresa que zela por eficiência.

O Brasil já tem um dos sistemas tributários mais ineficientes do mundo. Em vez de desonerar quem produz e incentivar o crescimento, discute-se novos impostos sobre quem já paga a maior parte da conta: os 20% mais ricos respondem por quase 70% do imposto de renda no país. Uma inversão completa da lógica da boa gestão.

 

Falta gestão, não imposto

O problema do Estado brasileiro não é falta de dinheiro — é falta de prioridade, responsabilidade e execução. Nenhuma empresa sobrevive culpando o cliente pelo prejuízo ou cobrando mais sem entregar melhor. Por que aceitar isso do setor público?

Ser contra a taxação de grandes fortunas não é ser contra a justiça social — é ser a favor da eficiência. É entender que a melhor forma de redistribuir riqueza não é confiscar valor, mas criar as condições para que mais gente possa gerá-lo.

Se o Brasil quiser crescer de forma sustentável, precisa aprender com quem faz gestão de verdade: cortar o que não gera valor, investir no que gera, medir resultado. Sem isso, continuaremos punindo quem entrega — e premiando quem nunca foi cobrado por entregar nada.

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