Foto: Juliana Nobre
Ao som de tambores, palmas e cantos, o quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, deu vida a mais uma edição do Raiar da Liberdade, na noite do último sábado (13). Durante o evento, que relembra o fim da escravidão no Brasil, apresentaram-se diversos grupos que compõem o patrimônio cultural da região sul. Eles dividiram o espaço com centenas de visitantes, que anualmente prestigiam essa importante festa, comandada há mais de seis décadas pela mestra de caxambu Maria Laurinda Adão.
No evento, seguindo a tradição anual, houve apresentações de diversos grupos de caxambu, jongo, folia de reis, capoeira, Charola de São Sebastião e boi pintadinho, sendo a maioria deles de Cachoeiro de Itapemirim e região. Além disso, a programação deste ano contou com a realização de uma missa afro, comandada pelo padre Daniel Nyanydh e pela equipe de música da Pastoral Afro da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim.
Outro destaque da programação foi a realização de uma mesa de debate, discutindo o tema “Direito à cultura dos povos e comunidades tradicionais: dever do Estado”, com a participação da mestra de caxambu Rosimar Domingos, da professora Luciene Carla Francelino e da deputada estadual Camila Valadão.
“A festa Raiar da Liberdade é símbolo de resistência da cultura afro-brasileira, desde sempre. É preciso avançar nesse diálogo para que o reconhecimento e o valor de grupos e entidades culturais sejam considerados pelos governantes, e que eles sejam preservados como patrimônio imaterial. O nosso 13 de Maio é dia de festejar, mas também é dia de debater e reivindicar o nosso direito de existir de fato, livres de preconceitos e de qualquer tipo de violência”, afirma a mestra Rosimar Domingos.
Lançamento de livro
Na ocasião, aconteceu também o lançamento do livro “Memórias do Caxambu Santa Cruz”, de autoria de Genildo Coelho Hautequestt Filho, Luan Faitanin Volpato e Rosângela Venturi Barros. É um projeto que resgata a história do grupo de caxambu de Monte Alegre, explica sobre o folguedo e apresenta os seus componentes, além das conquistas, dos desafios e das perspectivas do grupo, tudo isso sempre integrado a um pano de fundo histórico, social e político.
“Participar da criação de um instrumento que pode contribuir com a perpetuação de um patrimônio capixaba tão valioso tem um significado muito importante para mim. Esperamos que a importância dessa obra e, principalmente, do caxambu Santa Cruz seja realmente compreendida e respeitada por todos”, afirma Volpato, que fotografa apresentações do grupo há mais de uma década e é o autor das fotografias do livro.
O Raiar da Liberdade
O Raiar da Liberdade é considerado a mais antiga festa da cultura tradicional do estado, e poderá ser declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo. “O Estado, ao conceder esse justo reconhecimento da festa como Patrimônio, vai contribuir para atrair diversos benefícios sociais, culturais e econômicos para Monte Alegre”, afirma o pesquisador Genildo Coelho Hautequestt Filho, que também é coordenador de projetos da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, entidade que organiza o evento há mais de 20 anos.
O grupo de caxambu Santa Cruz, do próprio quilombo, coordenou as festividades. Trata-se de um dos mais tradicionais grupos de caxambu da região Sudeste, o qual recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o título de Patrimônio Cultural do Brasil. “Todos os anos recebemos, de braços abertos, os grupos e os visitantes. Quem quiser chegar, sempre será bem-vindo para o 13 de Maio, que também é o dia em que o nosso Caxambu foi criado”, comenta Maria, mestra do grupo.