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Beatriz Cravo: Quando o câncer de mama se torna um novo capítulo de vida

Publicado em: 21/10/2024

Beatriz Daniel Cravo é uma mulher como tantas outras, com o cotidiano cheio de responsabilidades e sonhos. É mãe do Arthur, de 15 anos e divide seu tempo entre o trabalho e os cuidados de casa. Mas, em 2021 teve sua rotina transformada por uma descoberta: o câncer de mama.

Em novembro de 2021, durante um exame de rotina, Beatriz descobriu um nódulo em sua mama. Apesar de realizar mamografias anuais desde os 38 anos, o exame revelou uma doença que ela não esperava.

“Foi um choque enorme. Eu trabalhava no hospital Santa Rita, lidando com documentos de pacientes com câncer, e de repente os meus próprios documentos estavam ali, como os que eu via de outras pessoas. Eu já tinha perdido pessoas próximas para a doença, então quando eu recebi o diagnóstico, foi como se o mundo parasse por um instante”, conta.

A primeira preocupação de Beatriz, no entanto, não foi com o câncer em si, mas com seu sonho de se formar em psicologia. Faltava apenas um mês para a apresentação de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), e a cirurgia estava marcada para a véspera.
“Eu me perguntava: como vou continuar? E a realização de um sonho?”, desabafa.

A cirurgia foi um sucesso, mas o professor, ciente de sua situação, a isentou da apresentação do TCC. Embora ela não tenha participado desse momento, sua formatura veio meses depois, com Beatriz careca e orgulhosa de sua conquista.

“No dia da minha colação de grau, eu tinha feito quimioterapia na véspera. Mesmo assim, eu fui. Eu precisava estar naquele momento, com aquelas pessoas que caminharam comigo durante os cinco anos de faculdade. Eu já tinha perdido a apresentação do TCC, mas a formatura eu não perderia. Era um marco da minha luta e da realização de um sonho”, relata.

Acostumada a uma rotina agitada, ela precisou desacelerar. “Foi difícil pensar que eu teria que parar, reorganizar minha vida, dividir tarefas, porque sempre fiz tudo sozinha”, diz. Mas esse tempo também a aproximou ainda mais de seu filho, que se tornou seu maior apoiador.

“Ele sempre dizia: ‘Mãe, vai dar tudo certo’, e isso me dava forças”, relembra.

Foto: Arquivo Pessoal

Durante o tratamento, Beatriz participou de atividades como meditação e reiki, oferecidas pelo projeto Casa Rosa, do hospital Santa Rita. Ela encontrou apoio em outras mulheres que também enfrentavam a doença, e juntas, aprenderam a redescobrir suas forças.

“Eu acho que a gente precisa desmistificar o câncer como o fim de tudo. Quando você recebe o diagnóstico, a primeira coisa que vem à mente é: quanto tempo eu tenho para viver? Mas a verdade é que ninguém sabe quanto tempo tem para viver, com ou sem câncer. O importante é se permitir viver, realizar os sonhos e se respeitar”, afirma.

Agora, após o término do tratamento em setembro de 2022, Beatriz vive um novo capítulo.

“Foi um tempo para refletir, me reconectar comigo mesma e entender o que eu queria da vida a partir daquele momento”, destaca.

Para outras mulheres que enfrentam o câncer de mama, Beatriz deixa uma mensagem:

“Nós, mulheres, temos que parar de nos cobrar tanto e nos olhar com mais carinho. Se você não parar por vontade própria, a vida vai te parar à força”, conclui.

Em meio a tantos sentimentos, é importante ressaltar que a rede de apoio é fundamental no enfrentamento do câncer. Para Beatriz, o suporte de amigos, familiares e profissionais de saúde foi essencial para atravessar momentos difíceis, como o impacto do diagnóstico e os desafios do tratamento. Contar com pessoas que ofereçam não apenas ajuda prática, mas também conforto emocional, faz toda a diferença para quem passa por uma doença tão intensa. A jornada do câncer vai além dos aspectos médicos, e ter ao lado pessoas que acreditem na cura, que incentivem e proporcionem acolhimento, fortalece o paciente e contribui para sua recuperação.

“Minha mãe, meu filho e o pai dele foram fundamentais. Mas é importante que as pessoas respeitem o tempo de quem está passando por isso. Às vezes, a pessoa quer ficar quieta, e isso não significa que ela está mal”, explica.

O câncer de mama ainda é um dos tipos mais frequentes entre as mulheres no Brasil.No Espírito Santo, de janeiro a julho de 2024, foram registradas 1.392 internações por câncer de mama, um número preocupante que evidencia a necessidade de exames preventivos regulares. Já em 2023, o Estado contabilizou 385 mortes por câncer de mama, sendo 237 óbitos apenas de janeiro a agosto de 2024.

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