Foto: Heitor Righetti Machado/Secom
O Brasil vive um paradoxo que salta aos olhos: nunca se anunciou tanto investimento em obras e infraestrutura, e ao mesmo tempo, nunca faltaram tantos profissionais de engenharia. São bilhões de reais previstos em rodovias, portos, escolas, hospitais, saneamento e energia, mas cada vez menos engenheiros e engenheiras disponíveis e valorizados para transformar esses projetos em realidade.
Só no Espírito Santo, o Governo do Estado anunciou quase R$ 1 bilhão em obras de infraestrutura rodoviária e edificações para 2025. São investimentos que vão desde a duplicação de estradas até a construção de escolas e hospitais. E isso sem contar os aportes do setor privado: a expansão dos portos, o fortalecimento do agronegócio capixaba, o crescimento da construção civil e os grandes projetos industriais que avançam em municípios de norte a sul. O estado vive um dos momentos mais aquecidos da sua história recente e depende diretamente da engenharia para não desperdiçar essa chance.
No entanto, o país enfrenta um déficit de profissionais qualificados. As universidades formam menos engenheiros a cada ano, e a procura pelos cursos vem caindo de forma preocupante. Muitos jovens desistem no meio do caminho, desanimados pela falta de oportunidades e pelos salários iniciais que, por muito tempo, não refletiram a importância da profissão. Mesmo agora, com o aumento das bolsas de estágio que já ultrapassam R$ 1.500 em várias regiões e com empresas voltando a contratar, o cenário de valorização ainda está longe do ideal.
A entrada no mercado continua sendo o maior desafio. Exigem experiência de quem ainda busca a primeira oportunidade, forçam a pejotização precoce e, muitas vezes, não oferecem condições dignas de trabalho. O resultado é um ciclo que desestimula novos talentos e cria gargalos técnicos justamente quando o país mais precisa de engenheiros e engenheiras comprometidos com a qualidade e a segurança das obras, lembramos que aqueles que se formaram em engenharia e não atuam na área, não possuem motivação para voltar para engenharia.
Esse quadro precisa mudar. Se queremos crescer de forma sustentável, o investimento não pode se limitar a concreto e asfalto. É preciso investir em pessoas, em formação, capacitação, reconhecimento e estabilidade profissional. Não há crescimento econômico sólido sem valorização da engenharia.
O Espírito Santo mostra o caminho. Os bilhões previstos em obras representam não apenas concreto e aço, mas a oportunidade de formar uma nova geração de profissionais capazes de garantir eficiência, inovação e responsabilidade técnica em cada projeto.
Valorizar engenheiros e engenheiras é garantir que cada obra pública cumpra seu papel, que cada real investido se transforme em benefício à sociedade e que o desenvolvimento chegue com segurança e qualidade. O Brasil não pode crescer com escassez de quem o faz crescer. É hora de transformar o discurso de investimento em uma política real de valorização da engenharia.