O Brasil chegou a um ponto de alerta: são 8 milhões de empresas inadimplentes, segundo a Serasa Experian, o maior nível em oito anos. Só as pequenas e médias representam 7,6 milhões desses CNPJs, carregando R$ 174 bilhões em dívidas. No pano de fundo, juros elevados, crédito restrito e baixo crescimento corroem o caixa das companhias, e junto, o fôlego da economia.
Mas há um aspecto muitas vezes negligenciado nessa discussão: a gestão financeira dentro das empresas. O problema não está apenas no custo de capital ou na falta de políticas públicas. Está também em como os empreendedores cuidam (ou deixam de cuidar) do planejamento, do fluxo de caixa e das decisões estratégicas.
Planejamento financeiro não é burocracia, é sobrevivência. Empresas que acompanham seus indicadores de forma recorrente — receita, margem, prazos médios de pagamento e recebimento — conseguem antecipar gargalos e negociar antes que a inadimplência se torne inevitável. A lógica é clara: quanto mais previsibilidade, menor a dependência de crédito caro para apagar incêndios.
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Modelos de gestão baseados em planejamento estratégico, metas claras e construção de cenários financeiros permitem criar amortecedores para momentos de crise. Ao invés de reagir, a empresa passa a se preparar. Essa disciplina não elimina os efeitos da macroeconomia, mas reduz a vulnerabilidade e aumenta as chances de atravessar ciclos turbulentos.
O dado mais preocupante é que micro e pequenas empresas, responsáveis por mais de 70% dos empregos, são as mais atingidas. Isso significa que cada falha de gestão financeira não é apenas um problema do dono do negócio, é um risco social que afeta empregos, consumo e desenvolvimento local.
A inadimplência recorde deve ser encarada como um chamado. Não basta esperar por queda de juros ou crédito subsidiado. A saúde financeira das empresas brasileiras exige, cada vez mais, profissionalismo na gestão. Afinal, sem controle de caixa, metas claras e visão de longo prazo, nenhuma empresa resiste, mesmo em tempos de bonança.