Capixaba é indicada ao Festival de Cannes com filme sobre câncer do pai

Inspirado na história de amor de um casal junto há 50 anos, o curta-metragem capixaba “Bodas de Ouro” foi indicado para o prêmio da categoria ‘Short Film Corner’, do Festival de Cannes, um dos mais importantes da indústria audiovisual.

Os protagonistas são Helena e Cláudio, que, no filme, está internado em um hospital para o tratamento de um câncer do tipo Linfoma não Hodgkin. Na trama, que traz recortes da vida real, Cláudio quer comemorar os 50 anos de casamento na mesma igreja onde o matrimônio foi consumado.

A atriz Liza Gomes é responsável pela direção do curta e conta que a história foi baseada no relacionamento de seus pais, José Teeiro e Geuza Noia.

“A ideia surgiu através da minha pós-graduação em direção na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro, no final do curso tínhamos que fazer um curta com duração de no máximo 20 minutos com o tema “Amor”. Na mesma hora veio o casamento de 50 anos dos meus pais. Ele era um homem muito apaixonado pela minha mãe e pela família, ele amava ter ao redor da mesa do almoço de domingo, os filhos e todos os netos, era uma alegria infinita”, lembra Liza.

“Sempre quando ia visitá-los, ficava filmando sem eles verem, achava lindo o relacionamento deles, o carinho de um com outro, vendo eles conversando quando ele tava passando creme nas pernas dela ou andando de mãos dadas pelo jardim da casa. Tinha muitas memórias e gravações dos dois, então, achei que poderia dar uma linda história, uma maneira de homenagear esse grande amor e eternizá-lo. No futuro, os bisnetos dele vão poder conhecer um pouco dessa história, já que ele dizia que ia viver muito ainda para conhecer seus bisnetos, ele acreditava muito na sua cura”, conta a capixaba.

Atriz Liza Gomes (ao centro), acompanhada dos pais José e Geuza | Foto: Divulgação

Segundo Liza, o filme se passa a partir do dia 12 de junho de 2021, aniversário de Helena, personagem que representa sua mãe e é personificada pela atriz Débora Olivieri. “Foi super corajoso da parte dela colocar de pé uma história tão dolorosa. E, para nós, atores, é sempre muito difícil fazer uma personagem inspirada no real e, especialmente, tão próxima à roteirista e diretora. Sinto como se eu estivesse dado de presente a ela a minha emoção, porque quando li roteiro fiquei muito tocada pela personagem”, ressalta a atriz.

Para a produção, que contou com gravações no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, Liza usou recursos próprios.

“Minha sorte é que eu estava com uma equipe técnica muito competente já acostumada a trabalhar com cinema. A sensação que tive é que meu pai estava me iluminando nesses dias, porque tudo correu muito bem, foram dois dias de muito trabalho e muita união de todos para contar uma grande história”, conta a diretora.

Em decorrência da doença, o pai de Liza faleceu em julho de 2022, cerca de um ano depois do início das filmagens. Para ela, o resultado da produção e o registro do amor entre os pais é parte de uma grande homenagem a quem lhe deu a vida.

Felicidade com a indicação
Para a capixaba, o momento é de felicidade e gratidão após a indicação para Cannes. “Tudo foi feito com muito amor, acredito que quando a gente se emociona com o que trabalha, pode tocar o outro, isso tá acontecendo com “Bodas de Ouro”. Tenho muitos outros objetivos que quero alcançar com meu curta, quero ser selecionada para os próximos festivais em mostras competitivas e quem sabe até ganhar prêmios porque é um filme muito bem feito e lindo”, conclui Liza.

Neste ano, o Festival de Cannes acontece entre os dias 19 e 22 de maio, na França, e os curtas participantes do Short Film Corner passam por seleção e avaliação de possíveis compradores do projeto.

Fonte: HZ A Gazeta