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Com trajetória de garra e superação, primeira mulher negra travesti eleita no Conselho Tutelar do ES quer fazer história e mudar vida de famílias vulneráveis

Publicado em: 04/10/2023

Foto: Redes Sociais

Foto: Redes Sociais

Pela primeira vez na história do Espírito Santo, uma mulher negra e travesti foi eleita para atuar no Conselho Tutelar, uma conquista que marca um momento significativo para a diversidade e inclusão no Estado. Maria Hellena Martins da Conceição, uma jovem ativista e estudante de Serviço Social na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), recebeu um total de 315 votos na eleição para conselheiros tutelares realizada no último domingo (1º) em todo o país. Ela foi escolhida para representar o município de Serra, na Grande Vitória.

Maria Hellena é uma das quatro mulheres trans ou travestis eleitas para conselhos tutelares neste ano em todo o Brasil, de acordo com um levantamento da ONG Rede Trans Brasil. Além dela, Natasha Cardoso no Rio Grande do Sul, Thara Wells em São Paulo, e Maria Ísis Mafra na Bahia também conquistaram suas vagas, demonstrando uma tendência crescente de inclusão e representatividade em cargas públicas.

Em uma emocionante entrevista ao site G1 ES, Maria Hellena apresentou um pouco de sua história e motivações para ingressar na assistência social e, posteriormente, na política. Ela nasceu em Central Carapina, um território marcado por conflitos de tráfico de drogas e confrontos policiais. Sua jornada de transformação começou quando se envolveu com o Movimento Social da Juventude e movimentos negros, onde desenvolveu uma compreensão profunda da luta pelos direitos civis e sociais.

“Eu nasci em Central Carapina, um território que tinha muitas guerras de tráfico, conflitos policiais. Mas não me passando pela cabeça trabalhar na assistência. Isso aconteceu depois que eu entrei no Movimento Social da Juventude e em movimentos negros. Ali, entendo a luta do movimento, eu entendo como uma pessoa negra, faço um rompimento com o conservadorismo e entro na universidade”, contou Maria Hellena.


Antes de iniciar o curso de Serviço Social em 2018, Maria Hellena cursou Farmácia e Biologia. Foi em uma conversa com amigos que ela descobriu seu potencial para ajudar jovens marginalizados por meio de movimentos sociais.

“Entrei no Serviço Social e decidi me candidatar ao conselho, sabendo também que esse espaço sempre foi muito conservador. Entendendo que meu corpo é um corpo político e corpos de mulheres pretas, LGBTS, precisam ocupar esses espaços de mulheres no serviço público”, enfatizou.

“Eu sendo uma pessoa travesti preta, que também veio de comunidade periférica, meu trabalho vai ser voltado para essas questões estruturais como racismo, LGBTfobia, machismo. Decidi entrar no conselho e fazer história”, disse Maria Hellena.

Antes mesmo de ingressar na faculdade, Maria Hellena já participava de grupos sociais, como o Levante Popular da Juventude, onde desenvolvia ações com jovens, promovia debates para crianças, introduzia filmes e música, sempre promovendo a conscientização e a luta pelos direitos civis.

“A ideia principal é evitar situações em que crianças e adolescentes tenham seus direitos violados”, explicou Maria Hellena. “São corpos marginalizados que, ali, a gente tenta, através do movimento social, explicar que eles têm direitos; eles precisam acessar todos esses direitos e saber onde acessar. E aí eu entro no serviço social e começo a ter um aprofundamento teórico e prático .”

Olhando para o futuro, Maria Hellena espera trazer uma abordagem mais humanizada aos processos que envolvem crianças vulneráveis ​​no Conselho Tutelar.

“É entender a totalidade e não apenas um caso específico de uma criança ou adolescente. O trabalho do Conselho Tutelar é promover, efetivar as políticas públicas, encaminhar para os lugares certos. Sabendo o perfil das crianças que a gente vai atender, que a maioria dos casos é de crianças negras”, disse ela.

Além disso, Maria Hellena acredita que o fortalecimento do Conselho Tutelar pode ajudar a apoiar as famílias mais vulneráveis, ressaltando que o Conselho Tutelar não garante os direitos por si só, mas é fundamental para encaminhar as questões às autoridades competentes e, assim, fortalecer os direitos fundamentais das crianças e adolescentes, com foco na educação, lazer, esporte, cultura e saúde.

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*** Com informações do G1 ES

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