As cidades capixabas já convivem diariamente com um novo desafio de mobilidade: as bicicletas elétricas. Elas se popularizaram rapidamente, principalmente nas cidades de Vitória, Vila Velha e Serra, ocupando um espaço que até pouco tempo atrás não existia. Rápidas, silenciosas e eficientes, tornaram-se uma alternativa real para deslocamentos curtos. Mas, ao mesmo tempo, expuseram uma lacuna evidente: não são motos, não se encaixam como bicicletas comuns e ainda não têm uma infraestrutura feita para elas.
Essa indefinição tem gerado conflitos e riscos. Os acidentes envolvendo bicicletas elétricas aumentaram significativamente no Espírito Santo. As ocorrências vão desde colisões leves até casos graves, alguns com óbito, como o registrado recentemente na Enseada do Suá, em Vitória, quando uma pedestre morreu após ser atingida por uma bicicleta elétrica que trafegava na contramão. E esses não são episódios isolados. O crescimento do número de usuários, aliado à ausência de regulamentação clara, fez surgir uma realidade que não pode mais ser ignorada.
Algumas iniciativas já começaram a aparecer. Em Vitória, o vereador Aylton Dadalto propôs um Projeto de Lei para disciplinar o uso das bicicletas elétricas no município, com diretrizes mínimas de segurança, equipamentos obrigatórios e regras básicas de circulação. No âmbito estadual, o governador Renato Casagrande levou o debate ao Governo Federal após os recentes acidentes, destacando a necessidade urgente de uma regulamentação nacional que alcance ciclomotores, bicicletas elétricas e outros veículos leves de mobilidade pessoal.
Mas a verdade é que não basta apenas regulamentar. Educação e fiscalização são importantes, mas não resolvem tudo sozinhas. Para que esse modal funcione de forma segura, é preciso oferecer infraestrutura adequada. E é nesse ponto que a engenharia tem um papel fundamental.
As ciclofaixas tradicionais foram pensadas para bicicletas comuns, mais lentas e leves. Já as bicicletas elétricas precisam de espaços mais amplos, melhor sinalizados e integrados ao planejamento urbano. Precisam de limites de velocidade compatíveis, de conexões eficientes entre bairros e avenidas, de trechos com separação física sempre que possível. Em resumo, precisam de um ambiente projetado com técnica, planejamento e responsabilidade.
O Espírito Santo sempre foi referência nacional em qualidade de vida, urbanismo e mobilidade ativa. Temos orlas extensas, ruas arborizadas e uma cultura que valoriza o uso da bicicleta. Mas a chegada das bicicletas elétricas exige uma nova etapa de modernização. Não se trata de escolher entre o motorista, o ciclista ou o pedestre. Trata-se de encontrar um caminho onde todos possam conviver com segurança.
As bicicletas elétricas são uma solução sustentável, moderna e acessível. Elas aliviam o trânsito, reduzem custos e ampliam as possibilidades de deslocamento urbano. Mas, para que cumpram esse papel, precisam de regras claras e de um lugar apropriado para existir.
O Espírito Santo tem a oportunidade de liderar esse debate no país. O futuro da mobilidade já está entre nós. Falta transformar essa realidade em políticas públicas, projetos de engenharia e vias que realmente acompanhem a evolução da nossa sociedade.