Arquivo pessoal
Dulci Pogian descobriu sua verdadeira vocação no momento em que tudo parecia dar errado. Após ser desligada do emprego como assistente administrativa, enfrentou um período de incertezas e desânimo. Foi nesse cenário, entre dúvidas e a busca por um novo sentido, que ela encontrou inspiração numa frase da confeiteira Bruna Rebelo, que seguia nas redes sociais: “Levanta a bunda do sofá, corre atrás, você nunca vai saber se vai dar certo se não começar”. A frase despertou Dulci e deu início a uma jornada de coragem e sabor: a D’Dulci Confeitaria.
Em abril de 2021, ainda na cozinha de casa, Dulci começou a vender bolos caseiros por encomenda. A estrutura era mínima, o tempo escasso, já que cuidava de dois filhos, um deles com apenas três anos. Mas a dedicação era total. “Acordava às quatro da manhã para assar os bolos e entregava durante o dia, ia andando pelo bairro e nos bairros vizinhos”, relembra Dulci.
O início na cozinha de casa. Foto: Arquivo pessoal
A marca cresceu rápido, impulsionada pelo boca a boca e pela qualidade dos produtos. Em apenas quatro meses, já alcançava R$ 7 mil em vendas brutas, atendendo apenas às quintas, sextas e sábados. Logo, surgiram novos pedidos: “Meus clientes começaram a me pedir bolos de pote na minha versão. Aí começou a abrir o leque de oportunidades de atender a mais clientes. Além das encomendas, enchia o carro com caixas de isopor cheias de sobremesas e saímos pela rua vendendo, ia nas concessionárias que trabalhei toda sexta feira e vendíamos tudo”, conta a empreendedora.
Em dezembro daquele mesmo ano, inaugurou seu primeiro ateliê. “Em 8 meses, inaugurei meu ateliê fora de casa. Equipado, chegando a 12 mil em vendas no meu primeiro Natal”, lembra Dulci. O Instagram passou a se fortalecer como canal de vendas e conexão com o público. A marca ganhava corpo, identidade e carinho, tanto da confeiteira quanto dos clientes.
Em pouco tempo, a produção e as vendas aumentaram. Foto: Arquivo pessoal
Em 2022, veio o baque: “Fui paralisada com a descoberta de uma doença chamada Neoromielite Óptica, doença autoimune, rara, grave, sem cura, mas estou em tratamento”, conta. Foram meses de internação e incertezas, com perda de mobilidade e dor. “Em agosto de 2022, fiquei internada alguns meses, até descobrir o diagnóstico, foram 4 meses até o diagnóstico correto. Já estava perdendo o movimento do meu lado esquerdo do corpo, do braço pra baixo”, lembra, emocionada.
Mas Dulci não se desconectou do que havia construído: “Ainda assim continuei no instagram alimentando postagens, em contato com os clientes, planejando o que faria quando saísse de lá, não deixei a peteca cair”.
O retorno ao trabalho aconteceu em fevereiro de 2023. Dulci havia ganhado 30 quilos e ainda estava com dificuldades na locomoção. “Decidi voltar ao ateliê, ainda sem sentir a mão esquerda. A partir daí não parei mais”. O ritmo foi reduzido por questões de saúde, mas o propósito continuava firme: “Meu propósito sempre foi entregar mais que um bolo ou sobremesa, mais um presente. Prezo pela embalagem, pelo encantamento do cliente, pela importância que ele tem, transmitindo o amor, o sentimento familiar que tem se perdido”, diz.
“Hoje visto a camisa sobre a doença a qual fui diagnosticada em 2022 e ajudo a falar sobre a doença, para que mais pessoas conhecem, e saibam como proceder e evitar sequelas graves, se descoberta logo, como aconteceu comigo. E se fizer o tratamento adequado, da pra viver uma vida normal”, relata Dulci.
Foto: Arquivo pessoal
A D’dulci se destaca também pela criatividade e pelo cuidado em cada detalhe. “Trabalho com produtos artesanais, ingredientes pensados e selecionados para trazer o verdadeiro sabor e o prazer do meu cliente de degustar um produto que vale a pena”.
Entre os campeões de pedidos estão os mini bolos personalizados, o Brownie Afogado com cremes de ninho e chocolate, o Brownie feito com açúcar Mascavo, manteiga da melhor qualidade, chocolate nobre, e cacau 100%, e as palhas italianas com sabores inusitados, como gorgonzola com amora e macadâmia com damasco.
O famoso Brownie Afogado. Foto: Arquivo pessoal
O processo de criação é artesanal do início ao fim. “A internet é minha inspiração, mais sempre coloco minha identidade, a minha essência. Por ter sangue italiano, gosto de fartura, então sempre sou muito caprichosa na quantidade de recheios e decorações”. Ela mesma elabora os cardápios, faz as fotos e envolve os clientes em todas as novidades, inclusive convidando para degustações gratuitas antes dos lançamentos.
Agora, Dulci se prepara para uma nova fase. “Os próximos passos é crescer, contratar, trazer mais facilidade e ir pra mais próximo ao meu cliente, e voltar com a venda do delivery de sobremesas”. Em breve, a confeitaria ganhará um novo endereço, com novidades no cardápio e na operação. “Vai vim muita novidade por aí, ainda esse ano. Mas ainda não posso contar”, finaliza Dulci, com suspense.
A história da D’dulci vai além da produção de bolos. É sobre resiliência, afeto, autenticidade e o poder de transformar um momento difícil em uma marca de propósito. Cada produto conta um pedaço dessa história que, certamente, tem sabor. Mais uma história que nos enche de ORGULHO.
D’Dulci é um Orgulho Capixaba. Foto: Arquivo pessoal