No Dia da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro, o Brasil reflete sobre a luta histórica dos negros por liberdade e igualdade. A data, que homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência à escravidão, também representa a valorização da identidade e da autonomia da população negra. Mais do que relembrar o passado, o dia destaca a importância de combater as desigualdades que ainda persistem e de reconhecer os negros como protagonistas de sua própria história, ocupando espaços e posições que muitas vezes lhes foram negados ao longo do tempo.
No Espírito Santo, 61% dos habitantes do estado se declaram negros (soma de pretos e pardos), de acordo com Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o Censo 2022 do IBGE, 2.338.483 capixabas se declararam negros, sendo 49,8% pardos e 11,2% pretos. Esses números superam a média nacional, que registra 45,3% de pardos e 10,2% de pretos, e reforçam o protagonismo da comunidade afrodescendente na construção da identidade capixaba. Esse índice revela a presença negra desde os primeiros anos de colonização do Espírito Santo.
Essa preseça começa com a escravidão que trouxe milhares de africanos ao estado, utilizados como mão de obra nas plantações de cana-de-açúcar e, posteriormente, de café. Apesar das condições brutais e da desumanização impostas, a resistência nunca deixou de existir. Quilombos como o de Conceição da Barra surgiram como refúgios de liberdade e preservação cultural.
Após a abolição, em 1888, os desafios continuaram. Sem acesso à terra, educação ou trabalho digno, muitos ex-escravizados permaneceram em situações de pobreza extrema. Para agravar esse quadro, políticas de incentivo à imigração europeia contribuíram para a marginalização da população negra, relegada às margens da sociedade. Apesar disso, a comunidade afrodescendente resistiu e deixou um legado cultural profundo, que se reflete na música, na culinária e nas celebrações religiosas do estado.
A herança africana é um dos pilares da identidade capixaba. Na música, o congo, o jongo e o samba são expressões culturais que carregam a força e a memória da resistência negra. Grupos tradicionais de congo, como os de São Benedito, são exemplos de como a cultura afrodescendente permanece viva, sendo transmitida de geração em geração. Esses ritmos não apenas celebram a ancestralidade, mas também se tornaram símbolos de união e celebração comunitária.
Na culinária, a influência africana é evidente em pratos como a moqueca capixaba e a torta capixaba, que misturam ingredientes e técnicas trazidos pelos africanos. Esses sabores, tão característicos da gastronomia do estado, também contam histórias de resiliência e adaptação cultural.
Religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, têm papel central na espiritualidade do Espírito Santo. Essas práticas, que enfrentaram perseguição e preconceito ao longo da história, são expressões de fé e resistência cultural. Festividades como o Dia de Iemanjá e as celebrações de São Benedito reúnem milhares de pessoas, reafirmando a importância da cultura negra na vida cotidiana capixaba.
No entanto, os desafios da população negra permanecem. Desigualdade social, racismo estrutural e violência racial ainda são barreiras que precisam ser enfrentadas. Movimentos sociais, coletivos negros e iniciativas culturais têm desempenhado um papel essencial na promoção da igualdade e na valorização da cultura afrodescendente no Espírito Santo.
O Dia da Consciência Negra é um convite à reflexão sobre as raízes históricas e culturais do Espírito Santo. Reconhecer o protagonismo da população negra na formação do estado é fundamental para construir um futuro mais justo e igualitário.
A luta por reconhecimento e reparação histórica não é apenas um resgate do passado, mas também um passo essencial para transformar o presente. Políticas públicas inclusivas, educação antirracista e a valorização das narrativas afrodescendentes são caminhos indispensáveis para enfrentar o racismo e promover a equidade.
Neste 20 de novembro, relembrar a herança afrodescendente no Espírito Santo é um meio de reafirma o compromisso com a memória e a resistência de sua população negra. Que esta data inspire ações concretas e permanentes para que o legado dos negros no estado seja não apenas reconhecido, mas também valorizado como parte essencial do orgulho capixaba.
Fonte das informações: Livro Negros no Espírito Santo, de Cleber Maciel