Dia da Consciência Negra: Reconhecendo a luta e a contribuição dos negros no Espírito Santo | Orgulho Capixaba
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Dia da Consciência Negra: Reconhecendo a luta e a contribuição dos negros no Espírito Santo

Publicado em: 20/11/2024

No Dia da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro, o Brasil reflete sobre a luta histórica dos negros por liberdade e igualdade. A data, que homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência à escravidão, também representa a valorização da identidade e da autonomia da população negra. Mais do que relembrar o passado, o dia destaca a importância de combater as desigualdades que ainda persistem e de reconhecer os negros como protagonistas de sua própria história, ocupando espaços e posições que muitas vezes lhes foram negados ao longo do tempo.

No Espírito Santo, 61% dos habitantes do estado se declaram negros (soma de pretos e pardos), de acordo com Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o Censo 2022 do IBGE, 2.338.483 capixabas se declararam negros, sendo 49,8% pardos e 11,2% pretos. Esses números superam a média nacional, que registra 45,3% de pardos e 10,2% de pretos, e reforçam o protagonismo da comunidade afrodescendente na construção da identidade capixaba. Esse índice revela a presença negra desde os primeiros anos de colonização do Espírito Santo.

Essa preseça começa com a escravidão que trouxe milhares de africanos ao estado, utilizados como mão de obra nas plantações de cana-de-açúcar e, posteriormente, de café. Apesar das condições brutais e da desumanização impostas, a resistência nunca deixou de existir. Quilombos como o de Conceição da Barra surgiram como refúgios de liberdade e preservação cultural.

Após a abolição, em 1888, os desafios continuaram. Sem acesso à terra, educação ou trabalho digno, muitos ex-escravizados permaneceram em situações de pobreza extrema. Para agravar esse quadro, políticas de incentivo à imigração europeia contribuíram para a marginalização da população negra, relegada às margens da sociedade. Apesar disso, a comunidade afrodescendente resistiu e deixou um legado cultural profundo, que se reflete na música, na culinária e nas celebrações religiosas do estado.

Um legado cultural vivo e transformador

A herança africana é um dos pilares da identidade capixaba. Na música, o congo, o jongo e o samba são expressões culturais que carregam a força e a memória da resistência negra. Grupos tradicionais de congo, como os de São Benedito, são exemplos de como a cultura afrodescendente permanece viva, sendo transmitida de geração em geração. Esses ritmos não apenas celebram a ancestralidade, mas também se tornaram símbolos de união e celebração comunitária.

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Mestre Reginaldo Sales (in memoriam), tocando a casada da Banda de Congo Amores da Lua, bairro Santa Marta, Vitória. | Foto: Usina de Imagem

Na culinária, a influência africana é evidente em pratos como a moqueca capixaba e a torta capixaba, que misturam ingredientes e técnicas trazidos pelos africanos. Esses sabores, tão característicos da gastronomia do estado, também contam histórias de resiliência e adaptação cultural.

Religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, têm papel central na espiritualidade do Espírito Santo. Essas práticas, que enfrentaram perseguição e preconceito ao longo da história, são expressões de fé e resistência cultural. Festividades como o Dia de Iemanjá e as celebrações de São Benedito reúnem milhares de pessoas, reafirmando a importância da cultura negra na vida cotidiana capixaba.

No entanto, os desafios da população negra permanecem. Desigualdade social, racismo estrutural e violência racial ainda são barreiras que precisam ser enfrentadas. Movimentos sociais, coletivos negros e iniciativas culturais têm desempenhado um papel essencial na promoção da igualdade e na valorização da cultura afrodescendente no Espírito Santo.

Reflexão e compromisso com o futuro

O Dia da Consciência Negra é um convite à reflexão sobre as raízes históricas e culturais do Espírito Santo. Reconhecer o protagonismo da população negra na formação do estado é fundamental para construir um futuro mais justo e igualitário.

A jovem Lorana Jesus da Conceição | Foto: Kelimar Dias Malta

A luta por reconhecimento e reparação histórica não é apenas um resgate do passado, mas também um passo essencial para transformar o presente. Políticas públicas inclusivas, educação antirracista e a valorização das narrativas afrodescendentes são caminhos indispensáveis para enfrentar o racismo e promover a equidade.

Neste 20 de novembro, relembrar a herança afrodescendente no Espírito Santo é um meio de reafirma o compromisso com a memória e a resistência de sua população negra. Que esta data inspire ações concretas e permanentes para que o legado dos negros no estado seja não apenas reconhecido, mas também valorizado como parte essencial do orgulho capixaba.

Integrantes do Ticumbi (Baile dos Congos) de São Benedito de Conceição da Barra (ES). | Foto: Alair Caliari

Fonte das informações: Livro Negros no Espírito Santo, de Cleber Maciel

 

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