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Vinte mulheres privadas de liberdade da Penitenciária Feminina de Cariacica, localizada no bairro Bubu, estão participando da oficina literária do projeto “Elas por Elas: um lugar de – e que fala”. Por meio da iniciativa, serão realizadas diversas oficinas nas quais as participantes produzirão textos do gênero crônica, a serem publicados em um livro. A realização do projeto foi possibilitada pelo Edital 002/2021 (Diversidade Cultural), da Secretaria da Cultura (Secult).
As próximas oficinas acontecem durante o mês de março e serão ministradas pela escritora Elaine Dal Gobbo e pela ativista de direitos humanos (em especial do segmento LGBTQIAP+) e escritora, Kátia Fialho, proponente do projeto. Ambas são da Academia Cariaciquense de Letras (ACL). A primeira oficina aconteceu na segunda-feira (06) e contou com a presença da subsecretária de Estado de Políticas Culturais, Carol Ruas; e das defensoras públicas estaduais Keyla Marconi da Rocha Leite e Leticia Coimbra de Oliveira.
O projeto busca chamar atenção para a realidade dessas mulheres privadas de liberdade, que, conforme afirma Kátia Fialho: “São invisíveis para a sociedade”, e oportunizar a elas o direito ao acesso à cultura. Parte da tiragem do livro será destinada às detentas que participam das oficinas, outra parte será vendida ao público em geral. A obra contará, ainda, com crônicas de autoria das oficineiras, que terão como base suas experiências no trabalho desenvolvido dentro da Penitenciária Feminina de Cariacica.
Acesso à literatura
As oficinas de crônica serão precedidas de leitura, nas quais será feita uma leitura coletiva e participativa de trechos do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, tendo como objetivo a formação de leitoras e, também, a oportunidade de proporcionar às detentas o acesso à literatura brasileira – em especial, a produzida por uma autora negra e periférica, realidade que se assemelha àquela vivida na pele pela maioria das mulheres em privação de liberdade.
Quarto de Despejo foi publicado em 1960. Nele, consta parte do diário da autora, no qual narra suas vivências na Favela do Canindé, em São Paulo, como o dia a dia de sua profissão de catadora de papel, a relação com a vizinhança, a experiência de ser mãe e, também as dificuldades pelas quais passa juntamente com o restante da comunidade, como a fome, a precariedade habitacional, a falta de saneamento básico e outros problemas oriundos da ausência do poder público na favela, que ela denomina como “quarto de despejo”.
“As oficinas, a possibilidade de fazer com que as detentas se expressem, são fundamentais para desmistificar o local onde elas estão, que também é um lugar de fala. Quem sabe, por meio desse projeto, nós não tenhamos a grata surpresa de descobrir uma nova Carolina Maria de Jesus entre elas?!”, projeta Kátia Fialho. Nas oficinas de leitura, após contato com trechos de Quarto de Despejo, será estimulada a participação das mulheres por meio do compartilhamento de impressões, interpretações e assimilações, fazendo uma ligação entre a obra e a realidade delas.