Foto: Arquivo Pessoal
Com uma dissertação que nasce da vivência e da luta por inclusão, o geógrafo, professor e pesquisador Matheus Zatta Foratini se prepara para um momento especial na sua trajetória: a defesa pública de seu trabalho no mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A apresentação acontece nesta quinta-feira, dia 24 de abril, às 18h, no Auditório do IC2, no CCHN da UFES.
O trabalho de Matheus tem um título provocador: “Cartografar o corpo: uma análise posicional sobre as pessoas com deficiência, capacitismo e a exclusão nos lugares”, e propõe uma leitura crítica dos espaços urbanos a partir da vivência com a deficiência. Ele mostra como as cidades e instituições ainda funcionam com base na normatização dos corpos, ignorando outras formas de existência.
“Quero provocar reflexões sobre a normatização dos corpos e como ela interfere diretamente na construção dos espaços”, afirma Matheus. “Quando pensamos os espaços apenas para corpos considerados ‘normais’, estamos automaticamente excluindo outras formas de existir. Isso produz barreiras físicas, simbólicas e institucionais.”
A banca contará com a participação da orientadora Profa. Dra. Gisele Girardi, além dos professores doutores Igor Martins Medeiros Robaina, Douglas Christian Ferrari de Melo (UFES) e Ernandes de Oliveira Pereira (IFES).
Matheus vive com Distrofia Muscular de Duchenne (DMD), uma doença genética em estágio avançado que causa a degeneração progressiva dos músculos. Quando foi aprovado no mestrado, em 2022, ele estava internado em um hospital — e aquele momento, tão desafiador, deu o tom da sua jornada.
“Comecei o mestrado num momento bem difícil da minha vida. O início foi marcado por um hiato na produção, um cansaço mental e físico. Mesmo assim, consegui encerrar esse ciclo de forma positiva. O principal sentimento agora é de alívio”, compartilha.
Durante a trajetória, ele enfrentou dificuldades que quase o fizeram desistir da universidade, principalmente na transição para o modelo de ensino domiciliar, durante a pandemia de Covid-19. A falta de acessibilidade e o despreparo institucional quase fecharam as portas.
“Foi um momento em que eu pensei em trancar tudo. A universidade praticamente colocou uma placa de ‘não volte mais’. Mas meus amigos, minha família, e professores como o Igor Robaina, a Gisele Girardi e o Douglas Ferrari me ajudaram a permanecer.”
A dissertação de Matheus representa mais do que um trabalho acadêmico. É parte de uma luta maior pela inclusão de pessoas com deficiência nos espaços sociais e educacionais. E ele reforça: inclusão não é só sobre entrar — é, principalmente, sobre permanecer.
“Acessar a universidade já é difícil, mas permanecer é ainda mais. E isso passa por políticas de acessibilidade real, que garantam não só estruturas físicas, mas também sensibilidade institucional”, explica.
Sua pesquisa desafia estigmas e propõe uma nova forma de pensar a deficiência. “Quero que as pessoas deixem de ver a deficiência como sinônimo de incapacidade. A pessoa com deficiência é uma potência, é uma possibilidade de vida. A deficiência é só uma característica — não define o que somos.”
Matheus não para. Ele acaba de iniciar uma nova graduação em Contabilidade, já considera o doutorado e está produzindo um documentário que contará sua trajetória.
“A ideia é fazer com que mais pessoas conheçam a realidade das pessoas com deficiência. A luta por acessibilidade não é só nossa. Todas as pessoas vão envelhecer e, em algum momento, precisarão de um espaço mais acessível. Quando um espaço é acessível para todos, ele é melhor para todo mundo.”