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Gestão de riscos e cenários geopolíticos: o que as tarifas do Trump nos ensinam

Publicado em: 08/04/2025

Quando Donald Trump iniciou uma série de tarifas sobre produtos importados, muitos enxergaram apenas uma disputa política e comercial. Mas, para gestores atentos, aquele momento foi um marco: um aviso direto sobre como decisões políticas externas podem afetar profundamente a saúde e a estratégia de qualquer negócio — do pequeno varejista ao CEO de uma multinacional.

Em um mundo interconectado, os riscos deixaram de ser locais. Hoje, empresas brasileiras que importam peças da Ásia, operam com matéria-prima internacional ou simplesmente dependem de plataformas globais, estão expostas a fatores que vão muito além do que acontece no seu bairro, cidade ou estado.

E o alerta não ficou no passado. As tarifas impostas por Trump não se restringem apenas à China. Ainda em seu primeiro mandato, países como o Brasil já haviam sido impactados — como no caso das sobretaxas sobre o aço e o alumínio em 2020. Agora, em seu segundo mandato, o presidente Donald Trump já anunciou a aplicação de uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações. A proposta, com forte viés protecionista, reacende alertas para empresas de todo o mundo — inclusive brasileiras — que operam em cadeias globais ou dependem de insumos importados.

A gestão de riscos — antes tratada como um tema de compliance ou de grandes corporações — passou a ser central para a sobrevivência e o crescimento de qualquer empresa.

 

O impacto das tarifas e a resposta estratégica

As tarifas criaram uma elevação brusca nos custos de importação, obrigando empresas a buscarem alternativas. A Apple acelerou a diversificação de sua cadeia de produção para Índia e Vietnã. A Tesla reformulou sua logística e produção para depender menos da Ásia. Gigantes do varejo, como Walmart e Target, renegociaram contratos e adaptaram suas operações.

Empresas que já operavam com planos de contingência conseguiram proteger suas margens e reagir com velocidade. Outras, pegas de surpresa, viram seus custos explodirem e sua competitividade desaparecer.

 

O que isso tem a ver com empresas capixabas?

Tudo.

Empresas do Espírito Santo, sejam industriais, varejistas ou prestadoras de serviço, também estão expostas a riscos globais. E esses riscos não precisam vir apenas de Washington ou Pequim. Podem vir de Brasília, da Europa ou de qualquer oscilação que afete cadeias logísticas, matéria-prima, juros, energia ou mesmo normas ambientais.

Um fornecedor que atrasa, uma enchente que interrompe a operação, uma crise cambial que muda o custo de um insumo — tudo isso precisa estar no radar do gestor moderno.

No Espírito Santo, empresas como a ArcelorMittal, que operam em mercados globais, trabalham com gestão de riscos como rotina. No varejo, grupos como o Extrabom e operadoras como a Unimed Vitória mostraram capacidade de adaptação durante a pandemia — antecipando demandas, redesenhando rotinas e cuidando da sustentabilidade do negócio.

 

O que um bom gestor deve fazer?

Aqui vão sugestões práticas para estruturar a gestão de riscos na sua empresa:

  1. Mapear os riscos críticos
    Identifique os pontos vulneráveis do seu negócio: logística, fornecedores únicos, dependência de câmbio, tributação, infraestrutura e segurança digital.
  2. Criar cenários e planos de contingência
    Para cada risco, desenvolva um “plano B”. Se o principal fornecedor falhar, quem é o substituto? Se o dólar subir 20%, o que será feito?
  3. Monitorar sinais externos com consistência
    Acompanhe tendências políticas, econômicas, climáticas e tecnológicas. Não é sobre prever o futuro, mas sobre estar pronto para ele.
  4. Capacitar o time para lidar com incertezas
    Risco não é função só do jurídico ou do financeiro. Todos os times precisam entender como reagir e como proteger o negócio.
  5. Documentar e revisar constantemente os planos
    Planos de risco devem ser vivos, atualizados, debatidos nas reuniões e usados como ferramentas de decisão.

Gestão de riscos não é sobre evitar crises, mas sobre saber enfrentá-las. Em um mundo onde tarifas são aplicadas sem aviso, cadeias de suprimento travam por decisões externas e a volatilidade é regra, os líderes mais preparados não são os que sabem tudo — mas os que se antecipam, protegem e adaptam com velocidade.

Porque, no fim do dia, não se trata de evitar a tempestade. Trata-se de saber navegar por ela.

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