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Projeto de médicas capixabas que valoriza saúde e cultura pomerana se destaca em congresso nacional de saúde

Publicado em: 11/08/2023

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Um projeto voltado à saúde de comunidades pomeranas de Domingos Martins se destacou no VII Congresso de Secretarias Municipais do Espírito Santo (COSEMS/ES) e foi escolhido para representar o Estado em um evento nacional. As médicas Polyana da Penha da Conceição e Geissy Karla de Souza desenvolveram um projeto relevante e inclusivo no tratamento de saúde da comunidade pomerana local.

A ideia deu tão certo que o trabalho foi escolhido, durante o VII Congresso de Secretarias Municipais do Espírito Santo (COSEMS/ES), para representar o Estado na 18ª Mostra “Brasil, aqui tem SUS”, no Congresso Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), que aconteceu entre no final do mês de julho, em Goiânia (GO).

As duas profissionais são médicas do programa Estratégia Saúde da Família (ESF) do Ministério da Saúde e bolsistas do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi). Como a Dra. Geissy não atende mais no município de Domingos Martins, o trabalho foi continuado e apresentado nos eventos apenas pela médica Polyana.

Diversos trabalhos foram inscritos na etapa estadual do congresso e, para que pudessem ser apresentados no evento, os temas desenvolvidos deveriam cumprir uma série de requisitos, entre eles, estimular, fortalecer e divulgar as ações de municípios que inovam nas soluções visando à garantia do direito à saúde; e dar visibilidade às práticas de saúde na abrangência da gestão municipal segundo a realidade dos territórios.

Com cerca de 200 mil descendentes de pomeranos, o Espírito Santo abriga dois terços do número total de integrantes da etnia no Brasil, que mantém sua cultura em evidência, buscando preservar os costumes passados de geração em geração, incluindo seu dialeto único. Considerando que a cultura interfere diretamente no processo saúde-doença de um indivíduo, levou-se em conta que não se pode deixar de ponderar a interferência dos costumes pomeranos, seja na alimentação, nas dinâmicas e processos de trabalho, práticas de saúde, lazer e outras questões sociais.

O objetivo do trabalho é compreender o sistema de cuidado da saúde de famílias pomeranas, abordando a dificuldade de comunicação entre profissionais da saúde e pacientes falantes da língua em questão, bem como adotar as melhores estratégias para manter, além do entendimento sobre o tratamento realizado, cuidados e orientações, uma boa relação médico-paciente e paciente-acompanhante.

A partir do grau de dificuldade da língua pomerana e do grau de analfabetismo instaurado, criou-se a “Receita Social”, que deu origem a receitas médicas ilustradas, com adesivos, colagens de caixa de medicamentos, envelopes, entre outros materiais, com o intuito de ser uma ferramenta lúdica para desenvolver o letramento em saúde e o sentimento de pertencimento dos pacientes. As receitas não têm um padrão e são desenvolvidas de acordo com cada indivíduo para melhor compreensão de cada um.

Também foi elaborado um caderno de receitas culinárias utilizando ingredientes da rotina de plantio dos pomeranos, adaptadas de forma a tornar possível uma alimentação barata e balanceada, considerando os tipos de nutrientes e valor energético, com o propósito de melhorar o padrão alimentar da comunidade.

O projeto constatou mais um diferencial relacionado à comunicação com os pomeranos. Utilizar expressões do dialeto como “Bom dia”, “Boa tarde”, “Tudo bem?”, “Tchau” e “Obrigado”, mesmo sem a fluência da língua, mostrou benefícios durante a consulta. O diálogo, que antes era apenas entre médico e acompanhante/tradutor, deu espaço à participação do próprio paciente, que se torna capaz de interagir e participar nas tomadas de decisões. Para facilitar esse diálogo, foi confeccionado um pequeno glossário com as expressões mais utilizadas durante a consulta traduzidas em pomerano, disponibilizado aos outros profissionais das unidades de saúde do município.

As abordagens realizadas demostraram-se exitosas, uma vez que houve um aumento da participação do paciente pomerano nas tomadas de decisões acerca da própria saúde, bem como a ampliação da adesão ao tratamento. Além disso, as soluções apresentadas pelo projeto são consideradas de baixa tecnologia e podem ser aplicadas em qualquer atendimento clínico.

A solução aparentemente simples encontrada para otimizar o atendimento dos pacientes pomeranos requer habilidades que vão além do conhecimento clínico. Estiveram no evento nacional, além da médica Polyana, a gerente de atenção primária à saúde Laura Néspoli Nassar Pansini e a secretária municipal de saúde Zuleide Maria Cardozo.

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