Foto: Fernando Madeira
O Espírito Santo vive um momento de expansão no mercado da construção civil. A pesquisa de Previsão de Lançamentos Imobiliários 2025, do Sinduscon-ES, aponta para 6.951 novas unidades habitacionais na Grande Vitória, número superior ao do ano passado e que reforça a confiança no setor. Entre elas, destacam-se imóveis de dois quartos e um volume expressivo dentro do Minha Casa, Minha Vida, que terá o maior número de unidades desde 2019. Apesar do avanço, o programa ainda não consegue atender à demanda de milhares de famílias que continuam sem acesso à moradia digna.
Esse contraste evidencia um ponto crucial: o crescimento imobiliário, embora positivo, muitas vezes ocorre de forma desordenada e sem planejamento urbano integrado. A multiplicação de lançamentos, sem uma estratégia urbana mais ampla, corre o risco de não se converter em melhoria efetiva da qualidade de vida para a população.
A situação da Vila Esperança, em Vila Velha, é um retrato claro dessa realidade. Mais de 700 famílias vivem em uma área em disputa judicial desde 2019 e agora enfrentam a reintegração de posse. É verdade que existem aproveitadores, mas também há centenas de famílias que, diante da carência habitacional, se agarram a qualquer oportunidade pela promessa de ter um lar.
A ausência de políticas públicas estruturadas ao longo dos anos leva a invasões como esta que levam ao surgimento de bairros inteiros sem urbanização, sem saneamento, sem equipamentos sociais e sem serviços básicos.
O aluguel social oferecido é uma medida emergencial importante, mas não resolve o desafio maior: o planejamento habitacional que antecipe e organize o crescimento das cidades.
É nesse ponto que a engenharia se torna essencial: planejar novos bairros estruturados para a população que mais precisa, com transporte, escolas, saúde, áreas de lazer e infraestrutura completa, garantindo qualidade de vida ao desenvolvimento urbano. Esse processo não pode ficar restrito à iniciativa privada, que naturalmente tende a priorizar áreas de maior lucratividade. Cabe ao poder público assumir o protagonismo no planejamento urbano, direcionando políticas e investimentos que assegurem equilíbrio entre desenvolvimento econômico e inclusão social. Sem esse olhar técnico e social, situações como a da Vila Esperança tendem a se repetir em diferentes regiões.
O Espírito Santo tem, portanto, uma oportunidade histórica. Os números do Sinduscon-ES demonstram a vitalidade do setor e a confiança dos investidores. Mas o verdadeiro legado desse ciclo dependerá da nossa capacidade de transformar crescimento em desenvolvimento equilibrado, com a engenharia como ferramenta estratégica de inclusão, planejamento urbano e justiça social.