A maior parte das empresas começa vendendo para “quem quiser comprar”. É natural. No início, toda venda parece uma vitória. Mas, com o tempo, esse comportamento vira uma armadilha. Crescer vendendo para “todo mundo” é o mesmo que construir uma casa sem planta. Funciona até cair.
Empresas que crescem com consistência — e não por sorte — fazem uma escolha intencional: começam pelo cliente certo, com a dor certa, no momento certo. É isso que define tração real. E o ponto de partida é simples de entender (mas raro de aplicar): conhecer profundamente seu ICP — o perfil de cliente ideal.
ICP não é só demográfico. Vai além de “empresas com mais de 10 funcionários” ou “mulheres entre 25 e 40 anos”. O verdadeiro perfil ideal é aquele que:
O erro comum está em mirar um público “desejável” — bonito na apresentação de pitch ou na ideia de marca — mas que não compra, não valoriza e não tem pressa.
Depois de definir quem é o cliente ideal, vem o segundo desafio: entregar uma proposta de valor que resolva um problema real.
Segundo frameworks como o Value Proposition Canvas, uma proposta de valor relevante precisa se conectar com três pontos:
Empresas que conseguem descrever esses três pontos com clareza geralmente dominam seu nicho. Elas não vendem um produto ou serviço. Elas vendem alívio, conquista ou avanço.
Notion: virou uma plataforma de produtividade global ao focar primeiro em desenvolvedores e designers que buscavam autonomia e flexibilidade. Depois de ganhar tração nesse público, expandiu para outros segmentos.
Hotmart: criou tração ao entender a dor de produtores de conteúdo e especialistas que queriam vender cursos e produtos digitais sem depender de infraestrutura técnica. Ao simplificar pagamentos, hospedagem e entrega de conteúdo, se tornou referência no mercado de infoprodutos e educação online.
RD Station: nasceu dentro de uma agência de marketing digital, sentindo na pele o desafio de gerar e nutrir leads de forma escalável. Criou uma plataforma de automação acessível para PMEs, com linguagem local, preço justo e onboarding voltado para quem nunca havia usado tecnologia de marketing antes.
WhatsApp Business: ganhou tração ao resolver uma dor concreta de pequenos negócios que precisavam se comunicar com clientes de forma rápida, direta e gratuita. Ao entender que a maioria das PMEs brasileiras já usava o WhatsApp no dia a dia, a empresa criou uma solução simples, mas poderosa, que se encaixava perfeitamente no hábito e nas limitações do público-alvo.
Para transformar produto e proposta de valor em motores de tração, recomendo 5 ações:
Entreviste os seus melhores clientes
Descubra o que eles estavam vivendo antes de comprar. Qual era a dor? O que tentaram antes? Por que escolheram você?
Crie personas com base em dados reais
Deixe de lado achismos e crie perfis baseados no comportamento e nas falas dos clientes.
Mapeie os pontos de atrito e encantamento da jornada
Descubra o que os faz hesitar, desistir ou se apaixonar pelo seu produto.
Teste micro-ofertas com foco em resultado
Antes de escalar, teste versões simples da sua oferta para entender o que mais conecta com a dor do cliente.
Atualize sua proposta de valor com frequência
Mercados mudam. Seu cliente muda. Sua comunicação e entrega de valor também precisam evoluir.
No fim do dia, produto sem tração é só uma ideia bonita. Tração real nasce da combinação entre clareza de público, dor explícita e promessa irresistível de ganho. E não importa o tamanho da sua empresa — se você tem clareza sobre para quem está vendendo e resolve algo que realmente importa, sua proposta de valor se torna o seu maior diferencial competitivo.
Porque vender para todo mundo pode parecer ambicioso. Mas vender para a pessoa certa é o que realmente faz o caixa girar.