Foto: Luara Monteiro, Acervo Galpão IBCA
Uma artista que transita com talento e competência no audiovisual, no teatro e na literatura. Assim é Suely Bispo, a Homenageada Capixaba do 31º Festival de Cinema de Vitória, que acontece de 20 a 25 de julho, na cidade de Vitória, e conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e o patrocínio da Petrobras através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura.
Como parte da homenagem, a atriz e poeta receberá o Troféu Vitória e o Caderno da Homenageada, publicação inédita e biográfica, assinada pelos jornalistas Leonardo Vais e Paulo Gois Bastos, que aborda a pluralidade da sua trajetória profissional. “Foi uma grande surpresa para mim esse convite. Mas é uma honra. É o maior festival de cinema do Espírito Santo. É um grande festival. Então, claro, é muito importante esse reconhecimento. Só posso ver assim”, afirmou a artista sobre a homenagem.
Com um percurso de mais de três décadas nos palcos capixabas, dezenas de trabalhos no cinema e a participação em uma importante obra da teledramaturgia nacional, além de vários livros, é possível perceber na vida profissional desta baiana radicada no Espírito Santo, a pluralidade nas múltiplas atuações da artista que é graduada em história pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O primeiro trabalho de Suely nos palcos foi a peça A Gang do Beijo, uma adaptação da obra de José Louzeiro sob a direção de Armando Mecenas, em 1987. Em 1995, ela estabelece uma de suas parcerias mais longevas ao integrar o Teatro Experimental Capixaba, ao lado do diretor César Huapaya, no espetáculo Fausto, inspirado na consagrada obra de Marlowe e Goethe. Entre os trabalhos realizados com a companhia estão O Riso Contra A Dengue (2000); A Flor de Nanã – montagem apresentada de 2004 a 2008 em que se recriou o ambiente de um terreiro de candomblé dentro do teatro; Farsa de Juliana e Dom Jorge (2005), em que ela interpretou mais de uma personagem, entre elas a famosa cafetina Maria Tomba Homem; e Cantantes dos Reis (2009 e 2010).
Outro trabalho de destaque de Suely Bispo foi Shakespearianas, montagem que estreou em 1998, e que adapta textos de personagens femininas de William Shakespeare, com dramaturgia da própria Suely em parceria com Paulo de Paula, que fez a direção. Também faz parte da trajetória da artista nos palcos solos com caráter de performance ou monólogos. O primeiro deles foi Oxum, trabalho criado para um encontro de mulheres negras organizado pela historiadora Edileuza Penha de Souza, em 1996, e com coreografia da própria Suely. Ainda no formato solo, e mesclando poesia e dramaturgia, ela encenou Negra Poesia (2004), proposta com texto de poetas negros como Waldo Motta, Elisa Lucinda, Cruz e Souza, Solano Trindade, e da própria Suely Bispo; Momento Solano Trindade (2008), sarau poético pelo centenário de nascimento do poeta Solano Trindade; e Um Recital para Miguel Marvilla (2014 a 2018).
Suely Bispo também fez parte da Cia Rádio Terra, iniciativa que desenvolvia montagens infanto-juvenis com temática ecológica. Dessa empreitada atuou nas montagens Rádio Terra Planeta Água (2001); Nem Todo Lixo é Lixo (2004 a 2008); e Alice no País Sem Maravilhas (2005 a 2007). Esses espetáculos contavam com textos de Margareth Maia e com a direção de Verônica Gomes, e circulavam principalmente em instituições de ensino e foram apresentados no Instituto Terra, na cidade de Aimorés, em Minas Gerais. Seu trabalho mais recente nos palcos é Corpus em Vidas (2023), novo espetáculo do Teatro Experimental Capixaba, que volta aos palcos em 2024.
No cinema, sua primeira aparição foi em Fausto, curta-metragem produzido para integrar a encenação do espetáculo homônimo do Teatro Experimental Capixaba, em 1995. Ao longo de mais de três décadas de trabalho, ela integrou o elenco de dezenas de trabalhos no audiovisual como a ficção Herói da Bingolândia, curta-metragem de 2001 dirigido e roteirizado por Ricardo Sá e Alexandre Serafini. Em 2003, fez uma participação em E no Princípio Era o Verbo, de Virgínia Jorge. Em 3331 (2011), de Jorge Nascimento, ela é uma das personagens protagonistas do roteiro. Em 2014, interpretou duas prostitutas na ficção Cais dos Cães, curta-metragem roteirizado e dirigido por Marcos Veronese. No mesmo ano, atuou no curta A Letra do A, produção institucional do Ministério da Educação dirigida por Jefinho Pinheiro. Em 2015, viveu a orixá Oxum na ficção afro-futurista Beatitude, de Délio Freire, em que divide a tela com o ator Markus Konká.
No ano de 2016, Suely Bispo estreou na teledramaturgia. A atriz foi convidada a integrar o elenco da segunda fase da novela Velho Chico, obra de Benedito Ruy Barbosa e Edmara Barbosa, com direção de Luiz Fernando Carvalho. Sua personagem era a mãe preta e cozinheira Doninha que na primeira fase foi interpretada pela atriz Bárbara Reis. Ela foi descoberta através das redes sociais e por intermédio do ator Markus Konká. “Fui privilegiada pela sorte e pelo destino, pois meu primeiro trabalho na televisão teve a direção de um diretor consagrado como Luiz Fernando Carvalho”.
Em 2018, a atriz fez sua estreia em longas-metragens no roadie movie Os Incontestáveis, de Alexandre Serafini. No mesmo ano esteve no elenco dos curtas-metragens Os Mais Amados, de Rodrigo de Oliveira, no qual interpretou a mãe de Jesus; e Abelha Rainha, de Thayla Fernandes. Seus trabalhos mais recentes no audiovisual são o documentário A Coisa tá Preta (2021), de Gabriel Filipe; a websérie Capixabas de Luta (2021), de Cintia Braga, em que viveu novamente Maria Tomba-Homem; e os longas-metragens A Matéria Noturna (2021), de Bernard Lessa; e o terror Destinos das Sombras (2023), de Klaus Berg.
Suely Bispo ainda tem quatro trabalhos para o cinema em fase de finalização e que devem ser lançados em breve. São eles: Margeado, de Diego Zon; A Invenção do Orum, de Paulo Sena; Sola, de Natália Dornelas; e Pirâmides, de Alex Buck.
É bem evidente na trajetória de Suely a militância pela valorização da cultura afro-brasileira. No final dos anos 1980, ela participou do Grupo Raça, organização que congregava estudantes e militantes negros na Ufes. Essa temática também perpassa muitos de seus trabalhos no teatro e no cinema, além de estar expressa em sua produção literária e historiográfica, como o livro Resistência Negra na Grande Vitória: dos Quilombos ao Movimento Negro, obra que foi publicada em 2006.
Durante a vida universitária, Suely se aproximou dos textos poéticos por meio da via teatral. No início dos anos 1990, integrou o Guardiães da Poesia, grupo que fazia adaptações dramatúrgicas a partir de vários autores. Mas sua relação com a literatura vai além dos trabalhos nos palcos. Ela é autora de três publicações voltadas para a poesia: Desnudalmas (2009), Lágrima Fora do Lugar (2016) e Conversas Com o Silêncio (2022). Ainda no campo da literatura, a autora tem um trabalho inédito como tradutora. Ela traduziu do espanhol para o portugês La Sal de la Locura, do escritor Fredy Yezzed.
Suely Bispo também atuou como gestora pública. Em 2012, ela atuou como a primeira coordenadora do Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pas” após sua reforma e restauração. O espaço é um equipamento de valorização e reconhecimento da cultura afro-brasileira que oferece oficinas, exposições artísticas, pesquisas e ocupação cultural por artistas e coletivos culturais e sociais.
De 20 a 25 de julho, acontece o 31º Festival de Cinema de Vitória, que apresentará a safra atual e inédita do cinema brasileiro. Além das exibições nas mostras competitivas, o evento contará com sessões especiais, debates, formações e homenagens que transformarão a cidade de Vitória na capital do cinema brasileiro. Toda programação é gratuita.O 31º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e o patrocínio da Petrobras através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura. Conta também com o apoio da Rede Gazeta. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).