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ARTIGO: Espírito Santo: um estado pronto para virar cenário – e polo – do cinema nacional

Publicado em: 01/12/2025

Por: Fernanda Cipriano 

 

(O conteúdo deste artigo é de responsabilidade do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do portal Orgulho Capixaba)

 

Quando se fala em “polo cinematográfico”, muita gente imagina apenas estúdios e tapetes vermelhos. Mas um polo, na prática, é um ecossistema: um lugar onde produções conseguem acontecer com eficiência, porque existem profissionais, fornecedores, serviços, locações diversas, incentivos, formação, festivais, rede de apoio e uma cultura que entende o cinema e o audiovisual como economia e identidade. É quando filmar deixa de ser “uma aventura” e vira uma possibilidade real, recorrente e bem organizada.

E existe um efeito colateral poderoso nessa cadeia para as localizações envolvidas: o turismo por meio das telas. O local que vira cenário de filme, novela ou série ganha um novo significado no imaginário coletivo. As pessoas passam a desejar “pisar onde a história aconteceu”, repetir a foto, comer no mesmo lugar, atravessar a mesma rua, sentir a atmosfera que viram na tela. É assim que uma paisagem, uma praça, uma escultura, uma praia ou uma estrada deixam de ser apenas endereço e se transformam em destino.

Eu, particularmente, tenho uma memória muito nítida desse encantamento. Com 11 anos, em 1994, ainda criança que vivia na Rua 7 no centro da capital, vi pessoalmente as gravações do filme “Lamarca” na Praça Costa Pereira, no coração de Vitória. Para uma menina que já sonhava em atuar e viver em frente às câmeras, aquilo foi quase inacreditável: a cidade cotidiana, que eu conhecia como cenário da vida, de repente virava cenário de cinema. Caminhões, equipe, atores, marcações, figurinos, repetição de takes – e a arte acontecendo ali, na nossa calçada. Foi mágico. E, de certa forma, foi também revelador: o Espírito Santo tem vocação para as telas.

A vocação começa na geografia. Poucos lugares entregam tanta variedade de paisagem em tão pouca extensão territorial. Em cerca de uma hora, você sai do litoral e chega às montanhas: muda a temperatura, muda a luz, muda a textura do mundo. Temos praias com os mais variados perfis, restingas, falésias, manguezais, rios e lagoas! E temos também serras com clima frio e arquitetura que, dependendo do enquadramento, pode sugerir um “cenário europeu” sem exagero. Para uma produção, isso é ouro: reduz deslocamentos, facilita a logística, amplia as opções de locação e permite filmar “muitos mundos” com base no mesmo estado.

Além disso, o Espírito Santo é estrategicamente localizado na região Sudeste, em posição central do litoral brasileiro. Estamos a aproximadamente uma hora de voo de Rio, São Paulo e Belo Horizonte, o que ajuda elenco, equipe, equipamentos e pós-produção a circularem com agilidade, facilitando atrair coproduções e parcerias com os grandes centros.

E não falo apenas como espectadora: eu mesma participei como atriz de uma produção no início do milênio para ZDF (uma TV alemã) em que o Rio Piraqueaçu, em Aracruz, tornou-se o rio Amazonas diante das câmeras. É o tipo de transformação que comprova o potencial do ES como território cinematográfico: aqui, a paisagem possui plasticidade, oferece soluções narrativas e sustenta a ilusão que o audiovisual precisa construir.

Para completar, já temos vitrine e tradição. O estado já possui festivais que puxam os holofotes do setor, como o Festival de Cinema de Vitória e o FestCine Pedra Azul, que ajudam a formar público, conectar profissionais e manter o audiovisual pulsando, ano após ano.

A conclusão é simples e, ao mesmo tempo, urgente: há no Espírito Santo muitos profissionais competentes e prontos no cinema (e no audiovisual, em geral) para entregar obras de alta qualidade. Falta, muitas vezes, transformar esse talento em fluxo contínuo de produção: com mais organização, incentivo, visibilidade e apoio (não apenas público). O ES não precisa “inventar” um caminho do zero. Ele já tem cenário, localização, festival, gente boa e histórias! Falta acreditar, incentivar, estruturar e filmar mais aqui. Quando o Espírito Santo se coloca diante das câmeras, ele não mostra apenas tudo o que é, mas também tudo que ainda pode ser. 

Captura do filme em que o Rio Piraqueaçu, em Aracruz, tornou-se o rio Amazonas. Reprodução IMDb

 

Fernanda Cipriano é atriz, jornalista, locutora, apresentadora e empresária nascida em Vitória-ES. Formada em Comunicação/Jornalismo (FAESA), participou de diversos cursos livres e profissionalizantes (FAFI) em atuação e é especialista com MBA em Marketing e Gestão Empresarial (FGV). Como atriz e comunicadora, tem experiência em diversos meios como cinema, TV, teatro, internet, publicidade, mestre de cerimônias e locução comercial. Também é co-fundadora, sócia e diretora de operações e cultura organizacional da empresa de telemedicina Telelaudo.

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