Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Na última semana, Receita Federal, Polícia Federal e órgãos parceiros deflagraram a Operação Carbono Oculto e escancararam a infiltração do crime organizado na economia formal. O alvo: uma rede que combinava fraude em combustíveis, sonegação, lavagem via fintechs e fundos de investimento. Os números são duros: ao menos 40 fundos controlados pela quadrilha, com patrimônio somado de R$ 30 bilhões, muitos deles fechados e em camadas para ocultar o beneficiário final.
A investigação também apontou mais de mil postos e empresas da cadeia de combustíveis envolvidos em adulteração e em práticas como a bomba baixa. Na avenida Brigadeiro Faria Lima, 42 endereços foram alvos de mandados. Em oito estados, cerca de 1,4 mil agentes cumpriram centenas de ordens, com bloqueio de ativos bilionários e apreensão de usinas, frotas e até terminal portuário. É a prova de que o PCC profissionalizou sua presença em setores estratégicos, da energia ao financeiro.
Para você, gestor, CEO ou dono de empresa, este caso não é uma crônica policial. É um recado de governança. Os mesmos mecanismos que permitem eficiência financeira e crescimento acelerado podem virar portas de entrada para riscos criminais quando não há diligência séria. Fundos exclusivos, fintechs operando como banco paralelo e cadeias de fornecedores pulverizadas criam zonas cinzentas que pedem controles robustos. A ausência de protocolos básicos de apuração e de barreiras de integridade não é um detalhe, é um risco existencial.
Compliance não pode ser discurso de relatório anual. Ele precisa estar no centro da cultura da empresa, com regras claras de integridade, controles internos rigorosos e auditorias independentes. Mais do que isso, é papel do gestor criar mecanismos de prevenção: conhecer a fundo fornecedores, monitorar fluxos financeiros, investir em tecnologia antifraude e estabelecer políticas de denúncia com proteção real para quem fala.
Blindar sua empresa também passa por governança jurídica sólida. Ter contratos bem estruturados, cláusulas de responsabilidade e revisões periódicas com advogados especializados reduz riscos de associação com práticas ilegais. E, principalmente, manter um conselho ativo e independente para questionar, auditar e dar transparência às decisões.
A grande provocação é: você está cuidando da sua empresa como se ela fosse inatingível, ou como se pudesse ser alvo amanhã? Porque, no mundo em que até fundos bilionários foram usados para lavar dinheiro de facções criminosas, a ingenuidade custa caro.
Gestão não é apenas crescer. É também proteger. Quem não entende isso, cedo ou tarde, acaba descobrindo que a maior ameaça ao negócio não está na concorrência, mas dentro da própria casa.