Fonte: Secult
O projeto “Elas por Elas: um lugar de (e que) fala”, que realizou em março de 2023 uma série de oficinas literárias para detentas da Penitenciária Feminina de Cariacica, no bairro Bubu, ficou em primeiro lugar no Edital DiversidadES – 2º Prêmio de Boas Práticas em Promoção da Cidadania LGBTI+ do Estado do Espírito Santo, na categoria pessoa física.
Com o objetivo de selecionar e premiar iniciativas que visam ao combate à LGBTIfobia e à promoção da cidadania LGBTI+, o prêmio é organizado pela Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), por meio da Gerência de Políticas de Diversidade Sexual e Gênero.
O edital prevê o prêmio no valor de R$ 5 mil para oito diferentes iniciativas de boas práticas que promovam os direitos humanos da população LGBTI+ apresentadas por pessoa física e duas iniciativas apresentadas por pessoa jurídica ou coletivos.
Realizado com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 002/2021 – Diversidade Cultural Capixaba, da Secretaria da Cultura (Secult), o projeto é uma iniciativa da escritora Kátia Fialho, que é também ativista do movimento LGBTQIA+ e integrante da Academia Cariaciquense de Letras (ACL).
Embora as oficinas não tenham sido voltadas, exclusivamente, para mulheres lésbicas, as atividades contaram com participantes dessa orientação sexual. “O projeto busca chamar atenção para a realidade das mulheres privadas de liberdade, que são invisíveis para a sociedade, e oportunizar a elas o direito ao acesso à cultura”, afirma Kátia Fialho.
As oficinas foram ministradas por ela e também pela jornalista, escritora e integrante da ACL, Elaine Dal Gobbo. Nos dias 6, 13, 20 e 27 de março, as participantes escreveram crônicas que serão publicadas em livro – atualmente em fase de produção.
A obra vai reunir crônicas escritas pelas participantes, com base em suas experiências no trabalho desenvolvido dentro da Penitenciária Feminina de Cariacica. Parte da tiragem do livro será destinada às detentas que participaram das oficinas, outra parte será vendida ao público em geral.
As oficinas de escrita de crônica foram precedidas pelas de leitura, a partir do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, visando à formação de leitoras e proporcionando o acesso à literatura brasileira – em especial, a produzida por uma autora negra e periférica, realidade que se assemelha àquela vivida na pele pela maioria das mulheres em privação de liberdade.
“As oficinas, bem como a possibilidade de fazer com que as detentas se expressem, são fundamentais para desmistificar o local onde elas estão, que também é um lugar de fala. Quem sabe, por meio desse projeto, nós não tenhamos a grata surpresa de descobrir uma nova Carolina Maria de Jesus entre elas?”, diz Kátia Fialho.
Durante as oficinas de leitura, após contato com trechos do livro “Quarto de Despejo”, foi estimulada a participação das mulheres por meio do compartilhamento de impressões, interpretações e assimilações, fazendo uma ligação entre a obra e a realidade delas.