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Um ecossistema ativo é como um campo fértil: quando bem cultivado, é capaz de fazer brotar ideias que antes pareciam improváveis. Essa metáfora ganha força quando falamos sobre inovação regional. A capacidade de uma região desenvolver iniciativas inovadoras não é algo que nasce do nada, mas sim da articulação inteligente entre diversos atores — empresas, governo, universidades, investidores, hubs de inovação, instituições de fomento, e, principalmente, pessoas com propósito. Sem essa rede pulsante de conexões, o terreno permanece árido, e as sementes da inovação dificilmente prosperam.
O conceito de ecossistema de inovação, amplamente difundido por autores como Henry Chesbrough (criador do termo “Open Innovation”), vai muito além de infraestrutura ou incentivos fiscais. Estamos falando de relações orgânicas, de confiança construída ao longo do tempo, de trocas constantes entre quem pesquisa, quem empreende, quem investe e quem formula políticas públicas. E quando esse tecido social está vivo, ele se torna catalisador de uma cultura colaborativa, onde o erro não é fracasso, mas aprendizado, e onde a competição cede espaço para a cocriação.
Um ecossistema ativo é, portanto, um organismo que aprende, se adapta e evolui. Isso implica em espaços de escuta real entre os entes envolvidos, fóruns de discussão que promovam diversidade de pensamento, programas de aceleração conectados com os desafios locais, e ambientes que estimulem a experimentação. Mas nada disso funciona sem protagonismo. A região precisa de líderes — formais ou não — que puxem a fila, que tenham coragem de tentar o novo e disposição para engajar outros nessa caminhada. São essas figuras que criam pontes entre o que parece distante: o pequeno empreendedor da periferia e o grande centro de pesquisa, o investidor de risco e o poder público, a empresa tradicional e a startup nascente.
É importante destacar também o papel das universidades e institutos de pesquisa como polos irradiadores de conhecimento. Mas para isso, precisam romper seus muros, interagir com o mundo real, entender as dores do mercado e da sociedade. Da mesma forma, o setor público tem papel estratégico ao criar marcos regulatórios favoráveis, simplificar processos e facilitar o acesso a recursos. E o setor privado, por sua vez, deve assumir a responsabilidade de investir não apenas em retorno imediato, mas em inovação de impacto, aquela que transforma realidades.
Iniciativas como clusters de inovação, parques tecnológicos, programas de intraempreendedorismo e comunidades de prática são frutos diretos de ecossistemas saudáveis. Eles surgem quando há visão compartilhada e objetivos comuns. E quando funcionam, os resultados extrapolam os limites da inovação tecnológica, alcançando também a inovação social, a inclusão produtiva e o desenvolvimento sustentável.
Na minha trajetória como conselheiro de empresas e especialista em tecnologia, atuando em múltiplos setores — público, privado e terceiro setor —, pude ver de perto que os territórios que florescem são aqueles onde há engajamento genuíno das pessoas. Onde se entende que inovação não é um evento isolado, mas um processo contínuo e coletivo. E que para esse processo ganhar escala, é preciso investir mais em redes do que em estruturas, mais em conexões do que em instituições, mais em confiança do que em controle.
Portanto, se há um caminho seguro para o desenvolvimento regional sustentável, ele passa necessariamente pela construção de ecossistemas vivos, diversos e integrados. Onde as ideias circulam, os talentos se encontram e a inovação deixa de ser promessa para se tornar prática. Um território inovador é, antes de tudo, um território onde as pessoas acreditam que vale a pena inovar.