Foto: Luan Volpato
Com muita música, dança e feijoada, a festa Raiar da Liberdade vai acontecer em diversas localidades do município de Cachoeiro de Itapemirim. Sob o comando da mestra Maria Laurinda Adão, do Caxambu Santa Cruz, a celebração é uma tradição anual para relembrar o dia 13 de maio de 1888 – data emblemática que marcou oficialmente o fim da escravidão do povo negro no Brasil.
A festa tem início uma semana antes do 13 de maio, na localidade de Vargem Alegre, interior do município, e é organizada pelo grupo de caxambu Alegria de Viver, hoje liderado por Ormy Caetano e Pedro Paulo Caetano, que assumiram a dianteira do grupo após o falecimento da mestra Canuta Caetano, em 2019.
No dia 13, o Raiar da Liberdade acontece no bairro Zumbi, em dois locais: no Centro Espírita São Jorge, comandado pela mestra Terezinha de Jesus de Oliveira Francisco; e no Centro Espírita Menino Jesus e Nossa Senhora Aparecida, sob o comando de Niecina Ferreira de Paula Silva, mais conhecida como “Dona Izolina”, também mestra do Caxambu da Velha Rita. “Sou mestra de caxambu há mais de 50 anos e não deixo de realizar essa comemoração todos os anos. É um compromisso sagrado”, afirmou Dona Izolina.
A festividade acontece também no quilombo Monte Alegre, em Pacotuba, onde reúne a maior quantidade de visitantes. Realizada há 135 anos, desde a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, a festa Raiar da Liberdade em breve será declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo, a partir de um projeto de inventário realizado com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 012/2020, de valorização de patrimônios imateriais registrados e reconhecidos, da Secretaria da Cultura (Secult).
“O reconhecimento dessa festa pelo Estado poderá trazer muitos benefícios sociais, culturais e econômicos para o quilombo Monte Alegre”, destacou o pesquisador Genildo Coelho Hautequestt Filho.
O ponto em comum entre todas as festas são as rodas de caxambu, realizadas em cada local. O caxambu é uma manifestação que remonta aos tempos da escravidão no Brasil, quando os negros escravizados dançavam em uma roda e cantavam jongos (versos tendo como tema a fé e o cotidiano), buscando amenizar o sofrimento do cativeiro.
As rodas quase sempre são formadas ao lado de uma fogueira, ao som de batuques e tambores. “O caxambu é uma dança sem cavalheiro. Qualquer um pode dançar. Quando danço esqueço de tudo”, disse Dona Ormy, do grupo Alegria de Viver.
Vale ressaltar também que muitos dos mestres de caxambu foram declarados Patrimônio Vivo de Cachoeiro de Itapemirim e receberam reconhecimentos diversos, como o Prêmio Mestre Armojo do Folclore Capixaba. Já os grupos Caxambu da Velha Rita, Caxambu Alegria de Viver e Caxambu Santa Cruz, por exemplo, receberam o título de Patrimônio Nacional, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“É fundamental trabalhar pela manutenção desses grupos e pelo reconhecimento de seus mestres, para que haja uma perpetuação da sua existência por meio da transmissão do saber às novas gerações”, destacou Bruno Fajardo, presidente da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, entidade da qual os grupos de caxambu fazem parte
Programação de 06 de maio de 2023, em Vargem Alegre, Cachoeiro de Itapemirim:
17h20 – Recepção aos convidados
17h30 – Missa de Ação de Graças
18h40 – Abertura oficial
19h – Grande fogueira com apresentação de diversos grupos
20h50 – Encerramento com grupo de caxambu Alegria de Viver e feijoada